O poder transformador do coletivo

"Hoje eu sei que não estou sozinha. E isso me dá segurança para tomar algumas posições na minha atividade, junto da equipe. A consciência do apoio de outras mulheres e dos grupos me tirou do isolamento”. A fala de integrante do Comitê Mulher da Abrig, feita em evento sobre a presença das mulheres em posições de liderança, dá uma ideia da importância das redes de apoio e de conexão que reúnem as mulheres.

A formação de redes vem sendo apontada como uma importante ferramenta de impulsionamento de mulheres para que alcancem as posições esperadas no mercado de trabalho. Com atenção a isso, o Comitê Mulher da Abrig atua não só para servir como espaço de conexão, mas também para fortalecer outros coletivos em um processo de mútua confirmação e reforço.


A representação das mulheres que atuam na área de defesa de interesse no Brasil é feita hoje também pelos coletivos Dicas Mulheres em RIG e Pretas e Pretos em Relgov e pela Associação Mulheres em Relgov+. Esses grupos estão atualmente reunidos em uma coalizão voltada para a educação e o desenvolvimento de atividades de combate ao assédio moral e sexual nos espaços políticos e gerenciais. Como temos dito insistentemente, a solução para os problemas estruturais não virá da ação individual, mas da ação coletiva.


No mais recente Diálogo Abrig realizado pelo Comitê (em 10/04/2023), com a cofundadora da Iniciativa Elas no Orçamento e servidora pública, Clara Marinho, mais uma vez confirmamos os importantes resultados conseguidos através da ação coletiva. A iniciativa reúne mais de 200 mulheres em uma lista construída voluntariamente com nomes de profissionais e as indica para cargos de liderança do serviço público, em áreas ligadas a temas estruturantes (economia, planejamento, infraestrutura). O objetivo da iniciativa é democratizar o acesso às posições de tomada de decisão nessas áreas e ampliar a participação das mulheres no processo de construção das políticas públicas.


E a história da iniciativa já fala muito sobre a importância das redes. O Elas no Orçamento, como contam as fundadoras, foi inspirado em outra iniciativa, o "Sim, Elas Existem", lançada em 2018 para promover a igualdade de gênero no setor de energia. Em cada coletivo, nos unimos às mulheres do agronegócio, da indústria, das relações internacionais, da tecnologia e tantas outras que, em cada setor, identificam os principais impedimentos e avançam nas soluções para reduzi-los.


Não estamos mais sozinhas. Mas as barreiras de gênero continuam existindo e seguem limitando o acesso das mulheres às mesas de decisão. A teoria já registrou o fenômeno conhecido como Old Boy’s Network ou Clube dos Homens. E essa prática continua caracterizando os ambientes políticos e gerenciais brasileiros. As regras informais desses clubes definem o tipo de linguagem, de referências, posicionamentos, horários e locais das atividades de decisão e construção de acordos. Também naturalizam comportamentos que, com absurda e inaceitável frequência, resultam em assédio moral e assédio sexual. Apesar disso, vemos cada vez mais homens compreendendo esses vieses e assumindo posições pelo combate às desigualdades de gênero.


Estamos cada vez mais conscientes e trabalhando intensamente em várias frentes para que as mulheres possam atuar com excelência profissional sem que seja necessário alterar seus objetivos individuais e características pessoais para uma “adequação” aos padrões esperados para as mulheres. Sempre agradecidas pelas tantas que dedicam tempo e energia pelo coletivo, olhamos para o futuro, com a meta de criarmos uma condição de mais segurança e incentivo para as que chegarão depois de nós.


Francine Moor é coordenadora do Comitê Mulher da Abrig.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  

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