Saúde mental nas relações institucionais e governamentais: integralidade e impacto da pandemia

"Eo futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar”

(Aquarela, Toquinho)

A pandemia impactou muito a vida das pessoas. Medidas para o controle da contaminação por Covid-19, significaram mudanças nos ambientes de trabalho, educação, atividades de lazer e assistência em saúde. Novos estressores geraram verdadeira ameaça à saúde física e mental. O confinamento desafia o enfrentamento do estresse. Distanciamento protege a saúde física; entretanto adiciona prejuízos à mente. Além disso, o “Fique em Casa” complica o acesso à atenção em saúde.


O impacto da Covid-19 nos brasileiros foi avaliado em estudos, através dos quais torna-se possível delinear a gestão criteriosa dos recursos. Uma pesquisa com amostra de 3.000 pessoas dos 26 estados brasileiros e DF, com média de idade de 39,8 anos, mulheres (83%), casadas (50,6%), graduadas (70,1%) e empregadas (46,7%). Alguns contraíram o vírus (6,4%) e tinham amigos ou parentes falecidos (22,7%). Observou-se maior consumo de drogas, tabaco, medicamentos e alimentos (40,8%), sintomas de depressão (46,4%), ansiedade (39,7%) e estresse (42,2%).


É preciso destacar que a doença mental carrega um fardo que prejudica o adequado manejo assistencial. A estigmatização atrasa a busca de assistência, impede que sinais e sintomas sejam identificados precocemente e segrega a necessidade de auxílio especializado. O preconceito pode ser letal, dificultando o manejo e diagnóstico precoce. Isso implica cronicidade, quadros graves de agitação, agressividade, abuso de substâncias e comportamento suicida. Por isso, a importância do Setembro Amarelo, organizado nacionalmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM).


O futuro incerto não é novidade. Ao contemplar “Aquarela”, sua atemporalidade expressa a leveza da imaginação infantil, criando novos cenários, sem fronteiras, transformando imprevistos em soluções. A transitoriedade do tempo e incapacidade de controlar o destino são certezas que se tentam apagar. O real impacto da pandemia na saúde mental integral está sendo desenhado. Há linhas, desenhos e manchas que podem se descolorir. Entretanto, medidas preventivas associadas a diagnóstico precoce, acesso a tratamento, reabilitação e continuidade da atenção em saúde mental integral, são fundamentais para pintar.


Os profissionais de RIG viram suas demandas aumentarem na área da saúde. Entre emendas, leis, e propostas legislativas a necessidade desta atividade ficou mais evidente. Estamos em meio a uma crise de saúde pública sem precedentes, mas temos uma oportunidade extraordinária de promover, através da atividade RIG assuntos e temas relacionados aos desafios para o desenvolvimento para a área da saúde mental pública no país, melhorando a defesa e compreensão.


Roberta Grudtner é médica psiquiatra, membro da comissão de prevenção do suicídio da ABP e professora assistente no Principles and Practice Clinical Research - Harvard T.H. Chan School of Public Health.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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