A indústria farmacêutica na pandemia

Há quase um ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebia o primeiro alerta sobre uma pneumonia desconhecida na cidade de Wuhan, na China. Nove dias depois, as primeiras análises sequenciais do vírus apontavam que a doença era causada por um novo coronavírus. Em 13 de janeiro, foi notificado o primeiro caso fora da China e, em pouco tempo, outros países começaram a relatar casos da Covid-19. Com o agravamento da situação e a declaração pela OMS de que o mundo enfrentava uma pandemia, todos os esforços se voltaram para solucionar a maior crise sanitária desde o início do século passado.

Aqui no Brasil, não foi diferente. O país passou a adotar medidas de distanciamento social e o fechamento de serviços não essenciais. A pandemia trouxe assim prejuízos econômicos e sociais, o entendimento do potencial da saúde em influenciar todo o sistema de um país e a corrida por uma solução eficaz contra o Novo Coronavírus. Hoje, já são mais de 63 milhões de casos e 1,47 milhão de mortes no mundo todo.


A indústria farmacêutica, como não poderia ser diferente, se somou aos esforços e à linha de frente de combate à Covid-19, pesquisando vacinas para prevenir a infecção e medicamentos para tratar os sintomas. Segundo relatório da OMS, em 12 de novembro, 48 candidatas à vacina estavam em avaliação clínica, sendo 11 na fase 3 de pesquisa clínica, e 164 em avaliação pré-clínica.


O desenvolvimento de uma nova vacina pode levar em média 5 anos de pesquisa e, em menos de um ano, diversos laboratórios estão relatando bons resultados com suas candidatas. A eficácia já comprovada de algumas delas em fase 3 já é de 90-95%. A vacina contra a Covid-19 pode se tornar, assim, a mais rápida a ser desenvolvida e aprovada, graças aos recursos – financeiros, tecnológicos e humanos – disponibilizados pela indústria farmacêutica, que diante da emergência sanitária não economizou esforços para trazer uma solução rápida e eficaz. Até o momento, o imunizante contra a caxumba foi o mais rápido a ser desenvolvido e aprovado pelas agências reguladoras. O processo todo levou 4 anos.


Hoje, laboratórios internacionais de pesquisa farmacêutica estão unidos para solucionar a crise. Não há dúvidas de que a solução virá da ciência. Tanto o setor farmacêutico quanto as agências reguladoras se comprometeram a agilizar, sem renunciar à segurança e eficácia, o processo de pesquisa clínica necessário para garantir a imunização da população. A Anvisa, por exemplo, adaptou-se à nova realidade e tem implementado estratégias para acelerar o processo, diminuindo o tempo de análise, um dos fatores que torna o Brasil não competitivo para atrair mais pesquisas clínicas, apesar do país reunir diversas características favoráveis. A Orientação de Serviço 88/20, aprovada durante a pandemia, é um exemplo de sucesso. Com ela, a Agência passou a aceitar pesquisas clínicas realizadas e aprovadas por órgãos reguladores internacionais de referência como no caso da FDA (EUA), do EMA (Europa), MHLW/ PMDA (Japão), Health Canadá e Swissmedic (Suíça). A estimativa é que o prazo do estudo clínico no Brasil possa, então, ser reduzido em até 60%.


A agência brasileira também definiu procedimentos de submissão contínua de dados técnicos para o registro de vacinas contra a Covid-19, por meio da Instrução Normativa nº 77/2020. Com isso, as empresas podem compartilhar informações sobre os estudos de maneira contínua e parcial. Decisão importante para agilizar a análise de laudos pelo corpo técnico da Anvisa. Segundo a própria agência, há laboratórios que já vem submetendo os documentos para avaliação do registro de sua candidata por meio desse procedimento.


O Brasil participa atualmente de 4 estudos clínicos de candidatas à vacina, três deles são realizados por laboratórios associados à Interfarma. Segundo a Anvisa, 33.720 brasileiros são voluntários. Após a aprovação de uma vacina, o próximo desafio será garantir a produção e a logística de distribuição. É uma demanda nunca vista antes. Algumas das candidatas exigem cuidados extras no armazenamento, como temperaturas muito baixas. Por isso, governos do mundo todo precisam estar atentos para conseguir realizar a vacinação em massa e para determinar quais serão os critérios e os grupos prioritários.


O ano de 2020 mostrou que a saúde precisa ser prioridade de todos e cada um é responsável por sua saúde. Os recursos estão sendo destinados para combater a pandemia, mas é preciso manter o investimento em outros esforços importantes para o benefício de pacientes de outras enfermidades em todo o mundo. O acesso a medicamentos e vacinas para tratamento e prevenção de outras condições, como diabetes, câncer e sarampo, precisam ser garantidos para que o país não enfrente surtos de outras doenças, o que pressionaria ainda mais o sistema de saúde. Além disso, a pesquisa clínica de novas opções e tratamentos para doenças graves precisa seguir.


Ao dominar todas as discussões políticas e econômicas em todos os países, a pandemia de Covid-19 lembra que há uma relação entre o social, a economia, a política e a saúde que não pode ser esquecida. A indústria farmacêutica destinou todos os esforços e discurso para manter seu compromisso não apenas de entregar soluções inovadoras para a Pandemia, mas para manter os empregos e colaborar com governos, associações de pacientes para garantir o acesso a tratamentos de doenças préexistentes. Foram muitas as medidas e parcerias para garantir o abastecimento de produtos destinados ao tratamento da COVID19 e de outras doenças.


Fica claro que, diante de uma crise sanitária global, é preciso unir esforços, como vem sendo realizado pelos governos, agências reguladoras, profissionais de saúde, laboratórios farmacêuticos e cada indivíduo. A solução virá da ciência e do coletivo.


Elizabeth de Carvalhaes é presidente executiva da Interfarma, formada em Letras e PhD em língua e Literatura Alemã. 


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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