Economia circular e os desafios no Brasil

A Economia Circular é um conceito relativamente recente que se contrapõe às formas tradicionais de produção e consumo que são baseados em padrões sequenciais de extração, transformação e descarte.

Em outras palavras, a Economia Circular se apresenta como uma estratégia regenerativa, cujo propósito é manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor pelo maior tempo possível nos ciclos de produção e consumo. O conceito compreende a transformação de bens que estão no final de sua vida útil em recursos para outros processos produtivos, em uma lógica de circularidade, buscando exaustivamente a minimização e a eliminação de resíduos.


A passagem do modelo linear de extração, transformação e descarte, para o modelo circular, que preserva recursos, otimiza produção e reduz riscos sistêmicos, é necessária. Todavia, essa passagem é desafiadora pois as barreiras à transição circular são de naturezas diversas e de grande envergadura.


A primeira barreira está na maior parte das vezes na cabeça de quem consome e quem produz. Observa-se a existência de preconceito por parte de certas categorias de consumidores assim como verifica-se a falta de preocupação de segmentos empresariais no que tange à extensão da vida útil dos produtos.


Vencida essa primeira barricada, quando consumidores e produtores têm pensamentos e intenções convergente, altera-se radicalmente o nível das dificuldades. As empresas que pretendem adotar essa “démarche” se deparam com a escassez de informação e apoio técnico para a transição circular. Essa circunstância está vinculada à carência de ofertas formativas nessa área e se desdobra em uma clara falta de mão de obra capacitada nesse domínio de atividade. A isso se soma a constatação que, até o momento presente, as atividades de P&D em produtos e serviços circulares são incipientes no país, assim como o desenvolvimento de tecnologias adequadas às práticas circulares.


E não para por aí, a realidade é que mudar o modo de operação de uma planta industrial concebida a partir de pressupostos lineares não é nada trivial. A mudança de modelo pode significar reconstruir o negócio do começo ao fim e, nesse contexto, a transição para a circularidade pressupõe custos muito elevados.


Porém, a transição para a circularidade é um caminho sem volta que já está sendo trilhado pelas economias mais avançadas. A União Europeia, por exemplo, lançou, em dezembro de 2019, o Pacto Ecológico Europeu, que estabelece uma nova agenda política, tendo como horizonte o ano de 2050.


Também conhecido como Green Deal, esta nova agenda busca combinar o crescimento econômico com o uso sustentável dos recursos naturais e tem como objetivo transformar os desafios ambientais em oportunidades de inovação, de competitividade, de liderança geopolítica, de crescimento econômico e de inserção social. Essa política está fundamentada em oito áreas estratégicas, sendo uma delas a Economia Circular.


Considerando que a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, essa política terá impactos claros em nossas relações. Entre outros, isso implica que, sob pena de perda de partes importantes de mercado, teremos que nos transformar para atender às novas regras e, de preferência, isso deveria ser feito rapidamente. Em suma, o Brasil precisa de uma política pública clara direcionada à economia circular que traga elementos de resposta à necessidade de fontes de financiamento específicas para o desenvolvimento dessa economia e que aporte incentivos fiscais que facilitem a transição para a circularidade.


A política pública deve ainda equacionar a ausência de infraestrutura adequada aos fluxos circulares, precisa desconstruir a lógica de bitributação sobre produtos reciclados e resolver os entraves legais para a adoção de práticas circulares.


Pode parecer difícil, mas vale a pena o esforço. A Economia Circular é uma estratégia transversal aplicável a todos os segmentos de atividade econômica. Ela se propõe a priorizar o uso de recursos regenerativos, preservar e estender o uso do que foi produzido e utilizar resíduos como recursos. Tem como pressuposto repensar o modelo de negócios, concebendo para o futuro, incorporando tecnologia digital e criando valor agregado.


Em poucas palavras, essa estratégia é boa para o mundo. O fato é que economias de referência estão se movimentando nessa direção. Não podemos ficar para trás, precisamos encontrar caminhos para vencer os nossos desafios internos.


Marilia de Souza é graduada em Design Industrial, possui mestrado em Sciences de l´Homme et Technologie e doutorado em Sciences Mécaniques pour l´Ingénieur, ambos pela Université de Technologie de Compiègne, França. Desde 2004, ocupa a função de Executiva do Observatório do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná.



*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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