Retomada da economia brasileira

A retomada da economia brasileira passa por uma maior coordenação do Estado com o setor privado. A avaliação é da professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Esther Dweck, que também coordena o Grupo de Economia do Setor Público da UFRJ.


Ex-secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento, Esther, acabou de lançar o livro "Economia Pós-Pandemia: desmontando os mitos da austeridade fiscal e construindo um novo paradigma econômico", defende um papel mais ativo do Estado para reativação da atividade econômica.

ABRIG: Você lançou agora o livro em que defende que a saída para o Brasil é ampliar o gasto público através de investimentos estatais. Como fazer isso sem criar uma nova crise fiscal?


ESTHER DWECK: A redução das desigualdades e as demandas sociais podem ser um grande motor do crescimento. Agora, não há alternativa para apontar o pleno emprego que não seja o governo gastando mais. Garantir o pleno emprego não é tarefa só do Estado. Não é só o governo gastando mais e mantendo a economia no ritmo que atrai o setor privado. Uma complementação entre o Estado e o mercado faz-se necessária. O Estado pode manter a economia relativamente aquecida ao ponto de gerar demanda para o setor privado.


ABRIG: O que falta para que as mulheres estejam mais presentes nas decisões nos debates econômicos do Brasil?


ESTHER DWECK: A participação das mulheres no processo decisório é pequena. É preciso aumentar esse ambiente para que as mulheres se sintam mais à vontade e não precisem lutar para serem ouvidas.


ABRIG: A taxa de desemprego está alcançando quase 24% da força de trabalho. O déficit primário do governo central chega a R$744 bilhões em 12 meses, a perda de receita líquida em um ano é de R$154 bilhões, a taxa média de emissão de títulos da dívida está subindo. O cenário econômico está desalentador. Como o Brasil vai conseguir entrar em um momento mais dinâmico?


ESTHER DWECK: Para sair disso, vamos ter que gastar mais, não dá para esperar, vamos ter que seguir a receita que outros países estão seguindo. O Estado vai ter que entrar forte. As famílias ou perderam o emprego ou estão subempregadas, elas não vão ter nenhum estímulo relevante para esse ano, nem para o ano que vem. As empresas estão com uma certa ociosidade, com essa demanda de certa forma reprimida e com risco de cair. Muitas empresas estão fechando.


ABRIG: E o setor externo?


ESTHER DWECK: Em relação ao setor externo, não vejo nenhuma expectativa de crescimento de exportações, mesmo com a desvalorização cambial, porque o mundo está numa situação muito incerta, só sobrou o governo para atuar. E, por incrível que pareça, o governo atuando pode melhorar a situação fiscal.


ABRIG: E qual o momento certo para fazer esse estímulo?


ESTHER DWECK: Está claro que o momento certo de fazer isso não é agora, no meio de uma pandemia descontrolada. Mas, é preciso começar a se preparar para justamente garantir o que seria o ideal, garantir o isolamento social e ampliar a renda. Os 150 reais não são suficientes para que as pessoas fiquem em casa. É necessário dinheiro suficiente para que as pessoas fiquem em casa e façam um lockdown para controlar a pandemia e, depois, conforme aumentasse a vacinação da população, fazer um estímulo fiscal para voltar ao crescimento econômico, aumentando a arrecadação e melhorando o cenário econômico, social e fiscal.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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