Setor de indústrias: impactos e prioridades para o próximo ano

Marcos Lima, 1º vice-presidente da Abrig e dirigente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), falou com exclusividade à Revista Abrig Digital sobre a Agenda Legislativa da Indústria e sobre os impactos esperados no setor em ano de eleições gerais. Lima também comentou acerca das prioridades da indústria após o longo período de pandemia e do mercado de crédito de carbono. Confira na íntegra.

ABRIG: Segundo dados do IBGE, cerca de 70% das indústrias no Brasil foram afetadas pelo surto de Covid-19. Com a retomada econômica, após mais de dois anos de pandemia, faz-se necessária uma reforma estrutural na indústria. Quais são as prioridades do setor nesse contexto?


MARCOS LIMA: A pandemia da Covid-19 gerou duas reações imediatas, a primeira foi a constatação de que apesar de o Brasil ter uma das maiores redes públicas de saúde, e, portanto, um excelente mercado, a indústria da área de saúde teve dificuldades em absorver a demanda gerada pela pandemia, tendo que buscar adequações. Por outro lado, vários setores sofreram com a falta de insumos e com a falta de consumidores e mesmo de mão de obra. Uma crise sem data para acabar e com poucas informações disponíveis que permitissem planejamentos.


Vimos que muitos setores conseguiram mudar sua linha de produção de forma rápida, conseguindo produzir os materiais necessários para fazer frente às demandas.


O desafio agora é entender as mudanças da sociedade em diversas áreas. Movimentos que já estavam em curso foram acelerados nesse período da pandemia e a indústria está voltada agora para essas adequações. Um dos exemplos é o crescimento rápido da procura por produtos ambientalmente sustentáveis. Por isso, antes de simplesmente começar a investir, se faz necessário entender as tendências, olhar para as alterações no mercado internacional e aproveitar a oportunidade para fazer as transformações necessárias.


ABRIG: De que forma o ano eleitoral e todas as suas movimentações impactam o setor? Como se dá a relação política do setor com as autoridades?


MARCOS LIMA: Anos eleitorais são períodos mais sensíveis para o relacionamento com as autoridades, tanto do Legislativo como do Executivo. Mas as representações industriais devem apresentar aos candidatos suas demandas, ideias que possam ajudar no desenvolvimento da economia brasileira. É preciso partir do pressuposto de que os investimentos, principalmente em infraestrutura e logística, terão que ser feitos através das parcerias do Estado e do setor privado. Nenhum deles, sozinho, tem a capacidade de responder às necessidades atuais. O diálogo, portanto, é fundamental para que haja atuação eficiente dos eleitos.


A relação entre a indústria deve se dar de forma institucional. Independente das nossas preferências, os interlocutores governamentais serão escolhidos pelo conjunto da sociedade e, portanto, independentemente de quem forem os eleitos, se faz necessário que essa relação seja transparente, cordial, e crítica, quando necessário, mas sem alinhamento nem oposição permanentes.


ABRIG: A Agenda Legislativa da Indústria 2022, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diversos parceiros do setor, apresenta 151 projetos prioritários que estão em tramitação na Câmara. Quais são as principais demandas do setor e o que é esperado para o próximo ano, tendo em vista a renovação do Congresso com as eleições?  


MARCOS LIMA: Não há dúvida que o principal projeto da agenda legislativa é a Reforma Tributária. A PEC 110, que está com a relatoria do senador Roberto Rocha (PSDB/MA) na Comissão de Justiça do Senado Federal, é a proposição com tramitação mais avançada, mas esbarra na falta de entendimentos entre setores que hoje pagam poucos impostos e a indústria que tem uma alta carga tributária.


Para que essa PEC ou mesmo a PEC 45, que se encontra congelada na Câmara desde o ano passado, possa avançar, se faz necessário construir um grande consenso, não só entre os entes federativos (estados e governo federal) mas entre os diversos setores produtivos: indústria, serviços, agronegócio, construção civil. É preciso entender que será mais difícil que o Congresso alcance os consensos sem o empenho dos interessados, porque os parlamentares também têm seus posicionamentos e representam determinados grupos. Entendo que os setores produtivos, como um todo, devem avaliar se o sistema atual é prejudicial, e em que nível estão dispostos a alguns sacrifícios iniciais para que, no médio prazo, tenhamos um sistema mais justo que beneficie a todos.


ABRIG: Quais são as estratégias da indústria quanto à sustentabilidade e ao mercado de crédito de carbono? 


MARCOS LIMA: A Fiesp sempre defendeu um modelo de mercado, cap and trade, que não puna, mas que incentive a adoção de investimentos em tecnologias de redução das emissões. Entendemos que a indústria é parte da solução na transição para uma economia de baixo carbono e está avançando no diálogo para a construção de modelos que se adequem às necessidades do planeta e do mercado. Acredito que ainda há muito desconhecimento em relação aos benefícios desse mercado, o que é natural quando se trata de um assunto novo, mas a partir de eventos destinados a esclarecer essas dúvidas, tende a aumentar a adesão a essa política de forma mais visível, alcançando todos os setores produtivos.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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