A origem da guerra na Ucrânia e os desdobramentos do conflito no mundo

Marcio Coimbra, vice-presidente da Abrig, possui vasto conhecimento sobre questões políticas, sociais e econômicas, no âmbito das relações internacionais. Em entrevista exclusiva para a Revista Abrig Digital, concedida a Anderson Colatto, coordenador do Comitê de Assuntos Internacionais, Coimbra dissertou sobre o atual conflito entre Rússia e Ucrânia e os impactos que a guerra pode causar no mundo. Acompanhe a seguir: 

ABRIG: O fim da URSS pode estar na raiz da guerra na Ucrânia?


MARCIO COIMBRA: O fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), certamente, está na raiz da atual guerra na Ucrânia. Vladimir Putin declarou que o fim da URSS foi o pior movimento geopolítico que já aconteceu. Ele está tentando reconstruir o poderio da antiga URSS, usando a influência da Rússia nos países que antes formavam um Estado socialista. A Rússia atua em toda a região da Ásia Central. Nós já vimos movimentos militares da Rússia na região da Geórgia, na Chechênia, na guerra civil no Quirguistão e, agora, na Ucrânia, que faz parte da Europa. Por ser uma ex-república da União Soviética, a Ucrânia é vista por Putin como uma esfera de influência, pois era a zona industrial da URSS e é justamente isso que ele quer de volta. Não necessariamente quer que o território seja incorporado à Rússia, mas que, a exemplo de Belarus, tenha um governo tutelado por Moscou. Em suma, faz sentido pensar que a antiga URSS é a origem dessa guerra, por conta do seu passado e a influência que, atualmente, a Rússia exerce naquela região.


ABRIG: Qual é o papel da OTAN nesse conflito?


MARCIO COIMBRA: A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é uma aliança militar que fazia frente ao antigo Pacto de Varsóvia, formado por países do bloco socialista. Com o desfazimento do Pacto, após fim da URSS e da Cortina de Ferro, a OTAN pareceu não ter função por muitos anos, já que não havia mais um contraponto a ela. Entretanto, vários países buscaram fazer parte da aliança, a fim de proteger suas fronteiras e evitar um possível retorno de influência da União Soviética, como a República Tcheca, Hungria e Eslováquia. A invasão russa em território ucraniano mostra que, realmente, a OTAN ainda tem uma função importante como instrumento apaziguador e de equilíbrio internacional. Esse conflito acaba fortalecendo a aliança militar.


ABRIG: Até que ponto os embargos europeus e americanos à Rússia podem contribuir para o fim da invasão ou para a efetivação de um possível conflito nuclear?


MARCIO COIMBRA: Os embargos à Rússia podem ajudar a evitar a propagação do conflito ou, ainda, a escalada para um conflito nuclear, pois eles enforcam a economia do país. A economia russa não é muito grande, pode ser praticamente comparada à da Espanha ou do Brasil e, até mesmo, a economia do estado americano de Nova Iorque. A principal dependência em relação à Rússia, especialmente da União Europeia, é em relação a petróleo e gás, mas para vários países estrangeiros a economia russa não gera um peso tão grande na balança comercial. Isso significa que as sanções geram um peso muito maior para a Rússia, que fica muito vulnerável em relação aos parceiros comerciais. Com a crescente dessas sanções, os oligarcas russos podem pressionar Vladimir Putin pelo fim da guerra para que seus negócios não sejam tão penalizados. É possível que nós estejamos diante de embargos que realmente possam fazer diferença, evitando que o Kremlin escale essa guerra para um conflito nuclear.


ABRIG: Você acredita na possibilidade de um conflito nuclear na região? Quão próximos ou distantes estamos disso?


MARCIO COIMBRA: Existe, sim, a possibilidade de um conflito nuclear. Afinal, estamos falando de uma país que tem o maior número de ogivas nucleares – mais de 6 mil –, e todas nas mãos de Vladimir Putin. Nos Estados Unidos, diferentemente, existe uma estrutura política, democrática e liberal, além de uma pressão institucional, composta por vários atores para deliberarem sobre o uso desse armamento bélico. No caso russo, Putin tem praticamente poder absoluto. Existe a possibilidade de ele utilizar ogivas e bombas nucleares, de menor potencial, caso se sinta encurralado. Eu acredito que o mundo nunca esteve tão perto de um conflito nuclear, desde a crise dos mísseis em Cuba, em 1962. Pode ser que a situação que estamos vivendo escale para isso. Toda a preocupação da Europa e dos EUA, nesse momento, é para não deixar que esse conflito vire uma guerra nuclear. A OTAN está ajudando a Ucrânia com apoio logístico e sanções contra a Rússia, mas não com interferência militar direta pois, caso contrário, o risco de conflito nuclear seria muito maior.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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