Os impactos da pandemia

ABRIG:  Quais as perspectivas de desenvolvimento para o seu setor de atuação pós pandemia?


JOSÉ CÉSAR DA COSTA: O setor de comércio e serviços foi um dos mais impactados pela pandemia da Covid-19. O fechamento dos estabelecimentos por diversos períodos e depois os investimentos que tiveram que ser feitos para atender a população com segurança ainda impactam fortemente nas finanças das empresas. O avanço da vacinação e a melhora nos números da pandemia trazem otimismo ao setor. O ano de 2021 já foi muito melhor do que 2020. Foi quando observamos os primeiros sinais de recuperação do consumo. Por outro lado, a crise econômica está impactando o poder de consumo do brasileiro. A alta da inflação, o aumento dos juros e do desemprego são fatores que impedem uma recuperação mais efetiva do setor.


Por isso, o comércio e os serviços têm atuado junto ao poder público para estender medidas de socorro às empresas que foram adotadas com sucesso no período mais forte da pandemia. Vimos, por exemplo, que a flexibilização das relações trabalhistas foi um importante passo para a sustentabilidade das empresas e para a manutenção de milhões de empregos. A disponibilização de recursos e a ampliação do acesso ao crédito foi um fator de grande relevância, mas que ainda precisa ser mais simplificado e com menor custo, para evitar o superendividamento e possibilitar novos investimentos pelas empresas.


Mas essas foram medidas temporárias. O que faria grande diferença em 2022 seriam ações estruturais na economia. Temas como as Reformas Tributária e Administrativa, por exemplo, seriam capazes de criar um ambiente mais pujante para o comércio. Todavia, no ano que vem serão realizadas as eleições e possivelmente não sabemos se teremos espaço para esse debate.


Por outro lado, o comércio eletrônico, que já vinha em ampla expansão, foi impulsionado pela pandemia. O que era um ambiente restrito aos grandes varejistas passou a ser ocupado também pelos micros e pequenos lojistas. Redes sociais como o WhatsApp, se tornaram ferramentas de vendas poderosas, oferecendo serviços para pessoas jurídicas, com pagamento direto pelo aplicativo. O acesso às informações creditícias tem garantido maior confiança nas relações de consumo e na concessão de crédito. Temos ainda o PIX, que facilitou os pagamentos e dinamizou ainda mais as vendas online. No fim das contas, vejo um momento que é necessário planejamento, inovação e estratégia, mas também favorável para o desenvolvimento do setor, principalmente aos micros e pequenos, que representam mais de 90% dos empresários do ramo.


ABRIG: Como a COP 26 e os desafios ambientais impactam 2022 e 2023?


JOSÉ CÉSAR DA COSTA: O setor de comércio e serviços compreende a importância do seu papel nos esforços pela adoção de uma economia descarbonizada, sustentável e com consciência ambiental em todos os seus processos. Vários segmentos do varejo têm encarado como prioridade diminuir a emissão de gases de efeito estufa e utilizar medidas que tragam menos impacto ao meio ambiente. Inclusive, utilizam isso como importante estratégia de marketing. Vemos isso na crescente busca das empresas por consultoria nessa área. Outro dia uma pesquisa mostrou que houve aumento de 80% nas buscas do Google pelo tema “rebrandig”, que é o termo para quem quer reinventar suas marcas.


Isso tem a ver com a revisão de conceitos, propósitos e compromissos. Essa é uma exigência do consumidor que cada vez mais obriga as marcas a se engajarem na luta por um mundo melhor para todos. Ele pesquisa a reputação e as ações que uma marca adota em relação não só às questões ambientais, mas também às questões de diversidade. E isso passa por toda a cadeia de produção.


Ao mesmo tempo, sabemos que esse é um processo que leva algum tempo e que não é barato. Para o varejo, outro desafio é a necessidade da implantação e o funcionamento da logística reversa, os varejistas têm buscado se adaptar a essa nova tendência de consumo, mas muitas vezes esbarram na falta de recursos e de incentivos na hora de efetivamente implantá-las. Esse é um grande desafio para o setor. Por isso, torna-se ainda mais importante o trabalho das entidades representativas junto ao poder público em busca de incentivos às empresas ambientalmente conscientes.


ABRIG: Como as Relações Institucionais e Governamentais podem ajudar nos desafios que estão por vir no seu setor de atuação?


JOSÉ CÉSAR DA COSTA: Olha, esse é um tema caro para as entidades do varejo, como a CNDL. Estamos aqui falando de propósito, projetos de melhoria e reformas estruturais. São debates importantes para toda a sociedade. Entendemos que esse diálogo tem que ser feito por meio de canais profissionais, capacitados, comprometidos com a ética e a transparência que todo debate público deveria ter.


Nesta semana, o governo enviou para o Congresso o projeto de regulamentação do lobby no Brasil. É um movimento importante para melhoramos as relações dos poderes Executivos e Legislativos de todo o país com as representações da sociedade organizada. Acho que essa é uma das maiores contribuições do governo para a qualificação dos processos de políticas públicas no Brasil e, principalmente, para o combate à corrupção.


Na CNDL temos mais de 500 mil associados vinculados a 2 mil entidades organizadas em todos os estados do Brasil. Há muito tempo incentivamos a formação de equipes de RIG para fazer articulação e mobilização do setor junto às autoridades, sempre respeitando a institucionalidade, a legalidade e a transparência dessa relação.


Essa prática também se aplica a outras entidades. No ano passado, por exemplo, o setor de comércio e serviços atuou fortemente, por meio de suas relações institucionais e governamentais, para avançar em temas que dizem respeito não somente ao setor, mas para toda a sociedade. Foi assim no início da pandemia, quando várias entidades se organizaram para desenhar e implementar as ações emergenciais que, no fim das contas, salvaram empregos e empresas de milhares de pessoas. Isso só foi possível graças ao diálogo institucional responsável e sério.


Dentro da estrutura do Sistema CNDL, a atuação e monitoramento de RIG é realizada tanto no âmbito municipal, estadual, quanto federal, considerando a complexidade e o impacto das ações. Buscamos fortalecer e organizar tais ações em prol de uma pauta pré-definida, alinhada com parceiros estratégicos do setor. Um exemplo, é a parceria da CNDL com Sebrae Nacional por meio do convênio para o programa Políticas Públicas 4.0 (PP 4.0), a nova versão e continuidade do Programa Nacional de Desenvolvimento do Varejo (PNDV), pela qual realizaram entre 2020 e 2021, junto com o IAGEE – Instituto de Avaliação, Gestão & Educação, a pesquisa “Diagnóstico de atuação institucional do Sistema CNDL”.


O PP 4.0 já passou por 17 estados e realizou 13 grandes pesquisas; a pesquisa do Diagnóstico de RIG do Sistema CNDL teve como objetivo a identificação de ações e as articulações realizadas pelas entidades (FCDLs e CDLs) em suas localidades em prol do desenvolvimento econômico local e regional.


A metodologia adotada foi quantitativa e qualitativa, através do contato direto com 160 entidades, junto as lideranças varejistas de FCDLs e CDLs das diversas regiões e estados do Brasil, bem como seus Presidentes, Diretores e/ou Executivos. Com isso, temos hoje o diagnóstico e sabemos quem faz RIG em nossas entidades, quais são os temas mais tratados, com quem mais se relacionam e promovem as articulações institucionais e as parcerias estratégicas, os chamados stakeholders, além de dialogar sobre como potencializar as ações de RIG do Sistema CNDL.


Os resultados da Pesquisa Diagnóstico de Atuação Institucional do Sistema CNDL ajudam nesse conhecimento da realidade interna do Sistema CNDL que é bem diversificada, e que reflete na sua efetiva tomada de decisão, contribuindo para a adoção de novas formas de organização e atuação com o tema das políticas públicas no setor de varejo no Brasil.


José César da Costa é presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (UNECS).


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  

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