Aenchente de 1941 ficou marcada como a pior da história de Porto Alegre, perdendo a posição para a tragédia ambiental registrada no Estado este ano. Na ocasião, o rio Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no dia 8 de maio. E no dia 5 de maio de 2024, essa marca foi superada: o rio atingiu 5,35 metros. Os números mostram o tamanho do impacto em 476 municípios atingidos (95.17% dos municípios). Em junho ainda temos 78 municípios em estado de calamidade pública e 320 em estado de emergência. Apesar da desmobilização dos abrigos ainda temos 30.442 pessoas em abrigos temporários no Estado. Mais de 540.192 estão desalojadas. E o impacto é em mais de 2 milhões, 392 mil e 686 pessoas afetadas. 172 mortes confirmadas. 41 seguem desaparecidas. 77.878 pessoas já foram resgatadas de áreas de risco.
De um dia para o outro, sem luz, internet, estradas, aeroporto e submersos.
Voltamos a ficar longe demais das capitais. Anos de bom trabalho, empenho e bons resultados se foram por água abaixo. Enchentes como as atuais, mesmo que em proporção menor, já tinham sido registradas no Estado em setembro de 2023 e despertaram uma série de críticas ao governo do Estado. Parte delas se refere às medidas adotadas pela administração estadual na área ambiental em anos recentes. Em 2019, por exemplo, um projeto do governo removeu ou alterou 480 pontos do Código Ambiental do estado, flexibilizando exigências e enfraquecendo a proteção.
O alagamento de uma parte de Porto Alegre revelou que o sistema de contenção contra enchentes precisa de manutenção e melhorias. Ficou claro que a prefeitura Municipal não investiu o que devia em prevenção contra enchentes no ano passado. Também é necessária a modernização das 23 casas de bombas espalhadas pela capital gaúcha. O sistema anti enchentes é robusto, tem quase 70 quilômetros de proteção, mas não foi feita nenhuma manutenção, mesmo com as enchentes de 2023.
O futuro do Rio Grande do Sul após a tragédia dependerá de uma série de fatores, incluindo a resposta imediata às necessidades urgentes da população afetada, a implementação de políticas de recuperação e reconstrução, e o aprendizado das lições para melhor preparar o estado para futuros eventos.
Os impactos gerados pela catástrofe reforçam a importância de uma rediscussão sobre o plano de desenvolvimento do Rio Grande do Sul, que desde 1980 apresenta queda na participação do PIB nacional. Sem considerar os efeitos da tragédia, a projeção já era de uma redução de participação dos atuais 6,2% para 5,3% do PIB nacional.
Mais importante do que a reconstrução é tratar sobre recomposição, e isso demanda fórmulas eficazes para fugir do fluxo convencional, burocrático e trabalhar sobre as novas oportunidades entre o público e o privado.
Embora a tragédia de 2024 tenha causado desafios significativos, a resposta e as ações subsequentes determinarão a capacidade do Rio Grande do Sul de se recuperar e emergir mais forte. Com um foco em resiliência, preparação e desenvolvimento sustentável, o estado pode trabalhar para garantir um futuro mais seguro e próspero para seus cidadãos.
Gaúchos, agora é hora de emergir, reconstruir, novas façanhas para continuarmos mostrando o nosso valor. E neste caos o que mais floresceu foi o amor.
Luciana Goelzer é Diretora Regional da Abrig no Rio Grande do Sul.