Não é um exagero afirmar que o relatório de sustentabilidade é, atualmente, uma das principais peças da comunicação corporativa. Para além dos inúmeros benefícios internos, dar transparência às ações sustentáveis contribui diretamente para o trabalho de reputação e de construção da confiança institucional, amplia o engajamento e é uma poderosa ferramenta de compliance e transparência. O que contribui, e muito, para orientar todo o trabalho dos profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIG).
Uma pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE, com dados coletados entre 1º de agosto e 31 de outubro de 2023 referentes a 2022, apontou que o número de empresas brasileiras que publicaram relatório de sustentabilidade cresceu para 15,8% em 2022. Embora a sustentabilidade não seja um tema novo, impulsionada pela agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), ela ganhou protagonismo no direcionamento de negócios nos últimos anos. Um dos motivadores é a chegada de novas gerações às posições de liderança, apresentando um novo mindset para o chamado capitalismo de stakeholders. Outro tem sido a urgência das questões climáticas, que estão visíveis em todo o mundo e no dia a dia dos negócios.
Se antes era considerado uma prática competitiva diferencial, agora, comunicar os desafios e avanços ESG de uma corporação passou a ser tratado até como uma licença social para operar. E os reguladores locais já entenderam isso. Com a divulgação das primeiras normas ISSB globais no ano passado — que estabelecem padrões para uma linguagem universal de critérios sustentáveis —, o Brasil se tornou o primeiro país a determinar a adoção de tais diretrizes por todas as empresas para o ano de exercício de 2026 (com publicação em 2027).
A evolução dos relatos comprova que o controle de mudanças climáticas, preservação ambiental e agenda sustentável são temas transversais ao mercado financeiro. Mais rigorosos e transparentes, os relatórios exigirão das organizações competências e habilidades para apresentar uma visão clara e assertiva sobre o futuro do negócio – sejam elas de capital aberto ou fechado, como o caso da SPIC Brasil, que passou a reportar periodicamente um ano após sua chegada ao mercado brasileiro, em 2018. E entre as audiências prioritárias do relatório de sustentabilidade estão os públicos de RIG, a partir de seu papel fundamental de promover diálogos cooperativos e unir diferentes players em grandes movimentos e coalizões.
A área também é crucial para manter as lideranças atentas ao impacto além-fronteiras de algumas regulamentações importantes. Um exemplo é o que acontece na União Europeia, que adiou recentemente a implementação da nova norma que torna obrigatório o reporte ESG por empresas de fora do bloco e que mantêm negócios naqueles países. Assim, o Brasil e outras nações ganharam fôlego para se preparar para as novas regras.
Sem dúvida, os profissionais de RIG serão cada vez mais convocados a ter uma participação ativa e participar do alinhamento às melhores práticas de reguladores e instituições globais, como o Pacto Global da ONU, IBGC e OCDE. Num mundo afetado por questões sistêmicas, como o aquecimento global e desigualdades sociais, precisamos medir e comunicar o que é relevante para a melhor tomada de decisões por empresas, governos e nações.
Roberto Monteiro é Diretor de Comunicação e Relações Institucionais SPIC Brasil. O executivo possui MBA pela Fundação Instituto de Administração (FIA) e é mestre e doutorando em Administração de Empresas na EAESP-FGV. Responsável pela equipe que publicou, em julho de 2024, a 6ª edição do Relatório Anual de Sustentabilidade da SPIC Brasil, empresa de capital fechado e subsidiária da SPIC Global.