O uso estratégico da comunicação é fundamental no ambiente político. Para os profissionais de relações institucionais e governamentais (RIG), trata-se de mais uma habilidade a ser desenvolvida para o bom desempenho profissional. Por isso, a Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig) promoveu, na última semana de julho, o curso híbrido Técnicas de Comunicação, ministrado por Fábio Brandt.
Comunicação de crise, posicionamento de marca, storytelling e problemas e oportunidades em RIG foram alguns dos temas tratados durante as quatro aulas. O professor é jornalista pela USP e mestrando em Relações Públicas e Comunicação Corporativa pela Georgetown University. Possui experiência como repórter de grandes veículos e mais de 15 anos de experiência no mercado de comunicação. Acompanhe a seguir a entrevista exclusiva para o Portal Abrig Notícias.
Abrig: A comunicação desempenha um papel fundamental no cenário político, sobretudo na elaboração de políticas públicas. Como você avalia a importância dela na área de Relações Institucionais e Governamentais (RIG)?
Fábio Brandt: A relevância da comunicação para a área de RIG é comparável, por exemplo, a atividades que são, tradicionalmente, incluídas nos projetos de RIG, como a pesquisa legislativa, a assessoria jurídica e a assessoria política. Atualmente, existem serviços de comunicação especializados nas diversas áreas da economia e, quando aliados às técnicas da comunicação legal e da comunicação de crise, podem conferir ao projeto de RIG uma consistência capaz de evitar percalços e prejuízos de reputação às marcas e indivíduos envolvidos no projeto. Para isso, no entanto, é preciso que a comunicação seja profissional e conduzida por profissionais especializados.
Abrig: Como desenvolver discursos efetivos que impactem seus stakeholders através dos diversos meios de comunicação?
Fábio Brandt: O primeiro passo, como visto no curso, é identificar o contexto em que o projeto de RIG está inserido, o que inclui não apenas o ambiente específico do projeto ou do ramo econômico em que ele está inserido. É preciso também conhecer o contexto macro da sociedade, da política, da economia e, em certas situações, da geopolítica. Em segundo lugar, é preciso ter clareza sobre as metas e os objetivos do projeto de RIG para que sejam identificados os públicos-chave aos quais as mensagens serão direcionadas e as atitudes que queremos que os públicos adotem em relação a algum assunto ou situação. Por fim, é preciso elaborar as mensagens, de forma consistente e coerente com o contexto, os objetivos e os públicos do projeto.
Abrig: O profissional de RIG deve ser capacitado para interagir com os poderes Legislativo e Executivo. Como se dá a construção da marca pessoal desse profissional para a efetividade do seu trabalho na defesa de interesses?
Fábio Brandt: O profissional de RIG pode se diferenciar em seu mercado extremamente concorrido por meio da construção de uma marca pessoal consistente. Esse processo inclui a capacitação, o acúmulo de experiências e resultados profissionais e o relacionamento interpessoal com os diversos stakeholders, entre outros itens. A marca pessoal tem duas faces. Uma delas é como o profissional planeja ser visto por seus stakeholders. A outra é a forma como, de fato, os stakeholders veem o profissional. Um dos desafios que podem ser assumidos para perseguir a construção de uma marca pessoal consistente e marcante é a busca constante pela diminuição do fosso que separa essas duas faces.
Abrig: Atualmente, uma crise de imagem e reputação tende a ampliar-se muito rapidamente. Como o profissional de RIG deve agir para prevenir esse tipo de situação e quais os principais passos a serem tomados após a instalação da crise?
Fábio Brandt: O profissional de RIG precisa saber como e onde buscar informações e apoio profissional qualificado para lidar com demandas de veículos jornalísticos e com crises de imagem e reputação. Isso vale para as crises que afetam as instituições e marcas representadas pelo profissional ou que impactam ele mesmo. Apesar de a imprensa ser a origem da maioria e das principais crises, as redes são um fator relevante porque amplificam as crises. O profissional de RIG deve, portanto, conhecer a diferença entre as diversas áreas da comunicação para poder acionar os profissionais adequados para cada situação específica. As redes sociais e demais tecnologias da comunicação ampliam as crises que, há alguns anos, ocorriam apenas nos veículos jornalísticos.