O
resultado das eleições de outubro de 2022 tem grande impacto na maneira de atuar do profissional de Relações Institucionais e Governamentais (RIG). Sabemos que cada governante impõe ao sistema político suas prioridades e sua maneira de agir. Algumas características são naturais do líder, outras, desenvolvidas ao longo da carreira e ajustadas às necessidades de cada período.
Principalmente a partir de fevereiro, quando inicia o ano legislativo, com a posse dos novos parlamentares, os profissionais de RIG precisarão estar atentos às novas configurações do Congresso e do Poder Executivo. No período de 2019 a 2022, o governo de Jair Bolsonaro estabeleceu um formato de relacionamento com o Congresso que priorizou a comunicação e os acordos com as bancadas temáticas – saúde, agricultura, evangélica, segurança e outras, desprezando as lideranças formais dos partidos políticos.
A estratégia tinha sido anunciada pelo ex-presidente ainda enquanto candidato e foi acompanhada com desconfiança por pesquisadores, políticos e profissionais da área. Ocorre que as bancadas temáticas, apesar de serem bastante ativas no Congresso, não possuem força nem organização para se sobreporem, em importância, às bancadas partidárias. É preciso levar em conta que o sistema parlamentar brasileiro é organizado com base nos partidos políticos, sob liderança das presidências das Casas Legislativas e das lideranças partidárias. Nesse contexto, os profissionais de RIG precisaram buscar novos interlocutores e adaptar suas estratégias de acesso e contato.
A legislatura 2019-2022 também foi impactada pelo grande número de parlamentares de primeiro mandato, oferecendo oportunidades para a área de RIG, já que o profissional pôde estabelecer uma relação de apoio e suporte aos novos deputados e senadores.
O Executivo geralmente se comporta a partir do perfil do presidente da República. A composição do governo Bolsonaro teve por característica a simplicidade nas relações estabelecidas, isso facilitou o acesso dos agentes de RIG aos agentes públicos, que, via de regra, se colocaram solícitos. Para os profissionais que representam a iniciativa privada, algumas pautas, como agronegócio e desburocratização, tiveram mais possibilidades de êxito.
Com Lula (2023-2026), vemos o retorno à política tradicional, com os partidos e suas lideranças retomando protagonismo. Pode-se esperar, também, maior previsibilidade no governo. Em seu terceiro mandato, Lula conta com grande variedade de nomes com experiência tanto nos governos federais petistas anteriores quanto nos estados e municípios. A condição política mais ampla da atual gestão permite também ao presidente buscar nomes mesmo em partidos de centro-direita. O relacionamento dos profissionais de RIG, portanto, tende a ser mais qualificado e técnico, exigindo preparação e objetivos claros.
No Congresso que tomará posse em 1º de fevereiro, as lideranças partidárias terão peso maior no processo decisório, principalmente na definição das pautas, diluindo o poder antes concentrado nos presidentes das Casas. Pautas da temática social voltarão a ter destaque, mas demandas estruturais, principalmente na área de sustentabilidade, tendem a encontrar abertura, contando com o empenho do Executivo para que o país possa oferecer respostas para as demandas globais.
Os casos de corrupção dos governos petistas anteriores podem provocar uma conduta mais rigorosa no relacionamento entre Executivo e Legislativo com a iniciativa privada. Boas práticas serão bem-vindas e contribuirão para a construção de um ambiente político produtivo e seguro para todos os envolvidos. A profissionalização constante da atividade de RIG, bandeira da Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais), é fator importante desse processo. A atividade se confunde com a própria democracia, pois teve seu ápice na constituinte de 1998 e no decorrer de mais de três décadas vem evoluindo de forma significativa.
O ambiente democrático oferece a grande oportunidade de renovação e essa vantagem se abre também para os profissionais de RIG. O mercado está aquecido e as organizações e empresas estão sabiamente adaptando suas equipes para o novo período. Empatia e consciência social tendem a ser valores procurados, mas acima de tudo, a convicção de que a atividade de RIG se dá na democracia deve guiar os profissionais em qualquer ação que realizem. A qualidade das políticas públicas depende da participação de mais grupos sociais e os profissionais da área de RIG são atores fundamentais nesse processo. Assim, democracia e RIG sairão fortalecidos!
Por: Marcos Lima, cientista político e 1º Vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig).