Diversidade no setor privado reconhecimento dos povos e combate a violência

Líder de planejamento de comunicações da Natura Brasil aponta como a sociedade deve enfrentar violências simbólicas que são cometidas na formação do conceito de identidade brasileira, para assim combatermos violências físicas.

ABRIG: Em 2019, o Brasil registrou aumento de 150% nos casos de violências diversas cometidas contra povos indígenas. Tendo isso em vista, qual o primeiro passo para combater a violência e o preconceito contra os povos originários?


RAPHAEL LIMA: Emergencialmente, os órgãos públicos devem tomar iniciativas a partir da vigilância e contenção de crimes. É necessário passarmos por um processo de revisão da nossa ancestralidade pois, enquanto não nos reconhecermos dentro desses povos originários, isso vai continuar acontecendo. Essa é uma violência simbólica que cometemos com eles, o tempo inteiro, na formação do nosso conceito de identidade brasileira. Acredito que, enquanto não mudarmos a base do nosso conhecimento sobre identidade, nada vai mudar. O problema não está só na representatividade, está na formação da consciência de identidade.


ABRIG: Como esses combates reverberam na sociedade? Como a tomada de consciência pode gerar mais oportunidades para minorias?


RAPHAEL LIMA: A tendência é que, à medida em que essa consciência é construída, as pessoas e comunidades se equilibrem com a construção de representação e avanço das políticas públicas. Assim, começamos a ter maior inclusão, não só de representação "a fórceps”, mas orgânica. Toda mudança estrutural é uma parte das ações conjuntas, temerárias e emergenciais. Além da educação de base, as oportunidades de troca com outros seres e a vida em ambientes diversos são necessárias para a formação de um indivíduo e de sua consciência.


ABRIG: Qual a importância da diversidade no ambiente de trabalho?


RAPHAEL LIMA: Acredito que a inovação surge do conflito e, do conflito, surge o brilhantismo. A diversidade e a diferença propõem o conflito no ponto de vista acadêmico, a troca de idéias e a dialética. A diversidade permite a proposição de idéias e visões de mundo diferentes, construindo amor e empatia. Ter essas mentes dentro do ambiente de trabalho é propor diversos tipos de visões de mundo, para que a gente consiga pensar o trabalho a partir dessas.


ABRIG: Como o coronavírus impactou o desenvolvimento da Diversidade no mercado de trabalho?


RAPHAEL LIMA: Acredito que, em curto prazo, o coronavírus impactou o desenvolvimento da diversidade no mercado de trabalho. Isso se dá por conta da aceitação da situação do Home Office e do trabalho à distância, que permite o fim da imigração das pessoas das suas regiões. Com a pandemia, muitas pessoas decidiram retornar às suas cidades e continuar trabalhando, de lá, nas empresas daqui. Nesse sentido, de diversidade regional, acho que o impacto foi muito positivo, porque as barreiras e regionais foram derrubadas. Não se sabe se será permanente, espero que seja, pois uma brecha de ampliação da entrada de profissionais competentes e brilhantes se abriu.


Raphael Lima é graduado em Comunicação Social e mestre em Cultura e Sociedade pela mesma universidade, participou como pesquisador do grupo LOGOS - Comunicação Estratégica, Marca e Cultura na área de Discurso e Análise de Marca.  Atualmente é líder de planejamento de comunicações da Natura Brasil.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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