A Quarta Revolução Industrial já é uma realidade no mundo e no Brasil. As empresas, de todos os ramos de atividades, estão descobrindo que monitorar as etapas dos seus processos e automatizá-los, onde é economicamente viável, torna a empresa mais ágil e eficiente, fazendo-a assim mais competitiva, num mundo cada vez mais global e sem fronteiras.
A principal característica da 4ª Revolução Industrial não é a introdução massiva de robôs na produção, mas sim a coleta de dados da produção e o uso desses dados para a tomada de decisão estratégica sobre o futuro da organização. E é no futuro próximo que as mudanças mais profundas estão ocorrendo.
O futuro está se tornando cada vez mais imprevisível. Quem previu a pandemia nos seus planos estratégicos para 2020? E os recentes recordes de temperaturas anuais? E a politização das pesquisas de vacinas contra o Covid-19? Acredito que absolutamente ninguém. Eventos imprevisíveis serão cada vez mais comuns e as organizações devem estar preparadas para se adaptarem a eles.
As organizações, de todos os ramos de atividades, deverão modificar suas estruturas organizacionais para serem mais horizontalizadas, com menos níveis hierárquicos e assim mais leves e ágeis para se ajustarem de acordo com as necessidades. Deverão ter procedimentos menos rígidos e burocráticos, para se adaptarem às novas regras e leis. Em resumo, se não podemos prever o futuro, devemos nos preparar para reagirmos a qualquer que seja ele, ou seja, as organizações precisam ser, cada vez mais, resilientes.
Essa onda de modernizações deverá atingir também o nível político, nas suas três esferas. Já vemos que o Judiciário adotou as audiências remotas e processos totalmente eletrônicos, conseguindo ganhos de produtividade e redução de custos e tempo para os agentes do direito. O Executivo já vem adotando tecnologias para reduzir o trabalho dos cidadãos para acessar aos serviços públicos. O legislativo também começa a reagir e deverá adotar também novas tecnologias.
Nesse ambiente dinâmico e mediado pela tecnologia, as atividades de Relações Intergovernamentais (RIG) também precisarão ajustar seus modus operandi de acordo com as mudanças nos diversos intervenientes dessas relações. As reuniões serão cada vez mais virtuais e menos na base do “olho-no-olho” e no “cafezinho”. As propostas de leis e suas tramitações serão mais intensamente virtuais e rápidas. As propostas de ajustes nas leis e regras, que afetam as empresas, precisarão ser mais rápidas e flexíveis, para atender às mudanças do cenário econômico e aos novos hábitos sociais.
Os mecanismos de pressão social sobre os poderes da União serão mais virtuais e sem lideranças formalmente instituídas. Movimentos recentes com o Black Lives Matter e Me Too, ou os mais brasileiros como o Passe Livre e o Black Block não possuem lideranças formalmente estabelecidas e com isso conseguem envolver um contingente significativo de seguidores que lhe dão representatividade junto aos governantes e legisladores. Entender a gênese e a dinâmica dessas organizações, para usar esses recursos nos pleitos e nas ações de sensibilização dos congressistas e gestores públicos, é um dos novos desafios para os profissionais de RIG nos tempos atuais.
Para realizar seus trabalhos, os profissionais de RIG precisarão dominar as ferramentas digitais e adequar suas estratégias de persuasão, e de defesa dos interesses das suas empresas, às novas dinâmicas da sociedade e dos órgãos públicos. Um novo e interessante mundo se abre para os profissionais de RIG. Mais dinâmico, mais rápido, menos individualizado e mais virtual. Aproveitem.
Paulo Rogério Foina, físico com doutorado em informática e pós-doutorado em Engenharia de Sistemas. É presidente da Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (ABIPTI) e diretor-executivo do Instituto Illuminante de Inovação.