Brasil tem uma década para adaptar-se à agenda 2030 do Fórum Econômico Mundial. Edgar Carneiro, analista da área apresenta e deixa claro as prioridades para nos enquadrarmos.
ABRIG: Como os profissionais de RIG devem agir para facilitar o entendimento das políticas previstas na Agenda 2030, no Brasil?
EDGARD CARNEIRO: Em nosso trabalho do Fórum Econômico Mundial, aprendemos que nenhum ator sozinho resolve todos os problemas. Entre as partes temos, muitas vezes, o setor privado, que tem no profissional de RIG o seu representante. Então, o que a gente faz é trazer as partes para conversar e este profissional é, sem dúvida, um ator importante. Ele tem a função de liderar essas pontes, executar essas alianças.
ABRIG: Neste ano tão diferente, em função da pandemia, as iniciativas destes profissionais foram refreadas, ou em alguns casos até implementadas?
EDGARD CARNEIRO: Vemos como uma oportunidade. As tecnologias e as trocas de conteúdos através delas, vimos que muitas conversas que antes eram reservadas, agora são feitas instantaneamente a todos os atores, ao mesmo tempo. Apesar de algumas áreas de negócios sofrerem bloqueios, decididamente é uma oportunidade e acelerou os trabalhos rumo à implantação da Agenda 2030.
ABRIG: Qual o passo a passo para atalhar a implantação dessa agenda?
EDGARD CARNEIRO: Fundamental lembrar que isso é imperativo: ou você se adapta a essa proposta de um mundo sustentável, ou sua empresa vai ficar para trás. A empresa precisa adequar-se à ideia de que ela precisa ser sustentável, que se preocupa com a diversidade e que pensa num prazo mais longo; tem que respeitar as métricas previstas através das ODS (https://odsbrasil.gov.br). São os 17 passos que as empresas precisam adotar até 2030. Temos que juntar os atores necessários e garantir que essas novas tecnologias sejam implantadas. Em nome do Fórum, acreditamos que, trazendo as partes para dialogar, vamos conseguir.
O Brasil tem apresentado um perfil de liderança nesta matéria, o que pode garantir investimentos internacionais que auxiliam este avanço. Todo mundo está adotando as métricas; todos estão sendo forçados a sair da zona de conforto. O próprio fundador do Fórum -Klaus Schwabprova que a adaptação a esses padrões é fator de sucesso a longo prazo. As novas gerações de investidores vão olhar se as empresas estão cuidando das questões ambientais, se pagam igual homens e mulheres, se empregam pessoas independente da sua orientação sexual. Por isso é imperativo.
ABRIG: Qual o papel da 4ª Revolução Industrial neste processo?
EDGARD CARNEIRO: As tecnologias estão aí, tem que entender como funcionam, ir atrás e usar isso. O que nós temos que garantir é que isso seja usado de maneira ética. Quem pensa que isso é coisa de empresa de T.I., tá enganado. Temos empresas dos setores mais tradicionais querendo saber como usar a questão de dados, querem entender a questão do armazenamento. Hoje mesmo, eu conversava com uma autoridade de um país árabe que dizia estar preocupado com as novas tecnologias energéticas, pois as empresas petrolíferas estão se transformando em empresas de energia, ou seja: queria saber como fazer uso dessas novas tecnologias.
Precisamos de políticas públicas que não sejam vinculadas a governo. Veja o exemplo do portal de comércio exterior, é o mesmo desde governos anteriores e não foi alterado no atual. Graças a isso o país cresceu muito na análise “Doing Business”, do Banco Mundial, (https://portugues. doingbusiness.org/pt/rankings) graças à manutenção dessa política. Seguem as mesmas regras de funcionamento. Precisamos de mais iniciativas assim, independente de qual governo vai, ou vem, que as políticas sejam implementadas.
Edgard Carneiro Viana é analista político e especialista em Engajamento na equipe de Comércio e Investimentos do Fórum Econômico Mundial.