ABRIG: A pandemia do novo coronavírus fortaleceu o movimento dos últimos 20 anos de aproximação comercial entre Brasil e Ásia, segundo dados do Ministério da Economia. O senhor acha que esse movimento também é visível especificamente na relação Brasil-Japão?
AKIRA YAMADA: O Japão e o Brasil compartilham valores fundamentais como a democracia, o estado de direito e os direitos humanos. Os dois países têm relações de amizade com base nos fortes laços humanos por longo período.
Na ocasião da visita ao Brasil do Ministro Motegi, dos Negócios Estrangeiros do Japão, em janeiro deste ano, foi confirmado a “Parceria Estratégica e Global” entre ambos os países que promove a cooperação e a parceria não somente bilateral, mas também no âmbito internacional, e foi acordado fortalecer ainda mais a relação entre Japão e Brasil.
As empresas japonesas, que expandiram suas atividades no Brasil, aumentaram de 370, em 2011, para 654, neste momento. Mas, o potencial das relações econômicas entre ambos os países é ainda maior. As relações comerciais Japão-Brasil estão se desenvolvendo de várias maneiras com as diversificações da cadeia de suprimentos e expansão das empresas japonesas ao exterior. Espera-se, também, um progresso maior no empenho do Brasil na ampliação da participação na cadeia de suprimento global.
Além disso, no Brasil, com as divulgações da comunidade Nikkei, a culinária japonesa tornou-se popular e eu fico muito feliz por isso. Quero me empenhar ainda mais para que mais brasileiros possam saborear a culinária japonesa como a segura e deliciosa carne de wagyu, o saquê e o shochu, entre outros alimentos e bebidas.
ABRIG: Dados do Banco Mundial mostram que, em 2000, os países asiáticos tinham 24% da participação do PIB global, enquanto em 2019 o percentual chegou a 32,6%. No pós-pandemia, como se dará essa participação?
AKIRA YAMADA: Segundo o World Economic Outlook, publicado pelo FMI em abril, enquanto a previsão da taxa de crescimento do PIB global de 2021 e 2022 é de 6,0% e 4,0%, respectivamente, os países da região asiática devem crescer 8,6% e 6,0%. Ou seja, os países da Ásia devem se tornar o centro do crescimento mundial mesmo após a pandemia.
Com o progresso da rede regional de acordo de livre comércio como a CPTPP (Comprehensive and Progressive Agreement for Trans-Pacific Partnership) e RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership Agreement), é esperado um maior aprofundamento da relação econômica dentro dessas regiões.
ABRIG: Qual a importância da redução dos custos, diminuição da burocracia brasileira e da reforma tributária para o crescimento da economia do país e o fortalecimento das relações econômicas Japão-Brasil?
AKIRA YAMADA: Na perspectiva de ampliar o investimento necessário para o crescimento econômico do Brasil e realizar o potencial econômico da relação entre Japão e Brasil, é de suma importância melhorar o ambiente de negócio, reduzindo o custo das operações por meio de reformas e desregulamentações por parte do governo brasileiro.
O sistema tributário complexo faz com que todas as empresas japonesas, que investem no Brasil, esperem pela realização da reforma. Esperamos um grande efeito de negócios pela ambiciosa reforma, desde a simplificação e estabilização do sistema tributário até a unificação dos impostos federais, estaduais e municipais.
O Japão apoia o empenho do Brasil para a adesão à OCDE e deseja, dentro do possível, continuar cooperando.
ABRIG: Quais são os efeitos da pandemia nas relações comerciais e o que os países podem fazer para sair dessa situação?
AKIRA YAMADA: Com a pandemia, do lado comercial, surgiram vários problemas como a diminuição do comércio mundial.
Em julho de 2020, o governo do Japão formulou uma estratégia de crescimento visando transformar a estrutura econômica e social em mais robusta e sustentável, a fim de superar a pandemia do novo coronavírus. Sobre as medidas contra o novo coronavírus do Brasil, o governo do Japão realizou muitas cooperações, como a doação de 4,8 milhões de dólares em equipamentos médicos ao governo brasileiro. As empresas japonesas também doaram recursos financeiros e materiais aos hospitais e colaboraram com o projeto de reparação dos ventiladores médicos do governo brasileiro.
ABRIG: Assim como na Coreia do Sul e China, o Japão tem o problema da segurança alimentar e acaba importando muito do Brasil e ainda produzindo bens que faltam no mercado brasileiro. Como essa relação foi afetada pela pandemia?
AKIRA YAMADA: O Japão não teve nenhum grande problema com o abastecimento de alimentos até o momento. Por outro lado, pensamos ser necessário atuar em parceria com cada país para não aumentar o risco global no abastecimento alimentar com as restrições à exportação de grãos e outros produtos através de alguns países exportadores de alimentos, conforme expressado a preocupação, durante o encontro de ministros da agricultura do G20.
A origem da produção de soja no Brasil é o projeto de desenvolvimento do Cerrado (PRODECER), uma das cooperações representativas do Japão e do Brasil. Este projeto ainda hoje é motivo de alegria para as pessoas envolvidas do Japão e do Brasil, pois, por meio deste projeto, transformou o cerrado que era considerado uma terra estéril em uma grande região de produção da soja, tornando o Brasil o maior país exportador de soja do mundo.
Akira Yamada é bacharel em Direito pela Universidade de Tóquio. Aprovado no concurso de alto nível para o Ministério de Negócios Estrangeiros. Ingressou, em 1981, no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Foi Primeiro Secretário da Embaixada do Japão nos Estados Unidos da América. Foi Diretor-Adjunto Principal, Divisão de Política de Assistência do Departamento de Cooperação Econômica. Dentre tantos cargos, foi Embaixador do Japão no México e, atualmente, Embaixador do Japão no Brasil.