A privatização dos correios, com Carlos Daltozo

A visão de um analista do mercado de valores sobre a realidade das privatizações e como anda o ritmo dos investimentos internacionais no Brasil nesta virada 20/21. 

ABRIG: Como está acompanhando o processo de privatização dos Correios?

DALTOZO: Sou analista de mercado. Estive 20 anos no Banco do Brasil e cheguei a trabalhar na tentativa de privatização da Caixa Seguridade. Estamos atentos ao processo de privatização dos Correios, pois trabalhamos com um dos interessados, que é a Sequoia. A expectativa é passar o projeto na Câmara ainda este ano. Ainda não está definido sequer se vai ser uma venda direta, ou abertura de capital. Ainda não se definiu como fica o passivo bilionário da empresa. Mesmo que o projeto de lei seja aprovado, tem muitas coisas ainda a serem definidas.


ABRIG: Você acredita em fracionamento dos Correios?

DALTOZO: É uma possibilidade. Tem também as pendências do Postalis. Veja que, no e-Commerce, a participação dos Correios chegou a 81% em 2013, mas caiu para 69% no ano passado. A empresa tem problemas para investir na atualização, com um comprometimento de 85% das receitas em pagamento de folha e outros.


ABRIG: Acreditar que em 2021 essa privatização acontece, é otimismo demais?

DALTOZO: É possível, mas não é fácil. Tem outras privatizações como a Eletrobras. Mesmo a Caixa, quando o Presidente Pedro Guimarães assumiu falou em 5 ou 6 IPOs no primeiro ano e já se foram dois e nada andou até agora. E se não andar em 21, em 22, com eleições, fica mais conturbado.


ABRIG: Como fica para fazer essas análises para cliente pesados, interessados nessas privatizações?

DALTOZO: Eu que fui privatizado. Saí do BB para iniciativa privada (risos). O mercado tá preocupado com o ajuste fiscal. O governo gastou muito na recuperação deste ano. Tem que ver como vai ficar em 2021 sem o auxílio emergencial, se isso vai interromper o crescimento. Tem que ver que medidas vem para reduzir a dívida pública e se vão mesmo acontecer as privatizações.


ABRIG: Esse crescimento no volume de investimentos internacionais no Brasil, recente, pode ser um sinal de que os investidores querem ficar por aqui?

DALTOZO: Este ainda é um movimento especulativo. Estes ingressos na Bolsa formam o maior volume desde 1995, mas mesmo assim o acumulado de saída de capitais do Brasil é de 57 Bilhões. É um capital especulativo. Ainda não estamos vendo investimentos em infraestrutura. O país gasta 50 Bilhões/mês com Auxílio Emergencial enquanto o orçamento do Ministério da Infra-Estrutura, para o ano que vem, é de 7 bilhões.


ABRIG: Nem sempre girar a maquininha de imprimir moeda é um bom negócio?

DALTOZO: Em geral não é. A gente acompanha cerca de 150 empresas listadas em Bolsa e nota que a retomada está em meio à falta de matéria prima em vários setores. Isso gera um choque inflacionário que, em nossa visão, não é passageiro.


ABRIG: Não tem mais nem garrafa para vender cerveja?

DALTOZO: Pois é, quando você vê que o setor cervejeiro cresceu mais de 10% no ano e que o preço da carne disparou, dá para concluir que o brasileiro queimou o Auxílio Emergencial em churrasco (risos).


Carlos Daltozo é co-head de Renda Variável da Eleven Financial. 


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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