Os desafios dos modais de transporte e logística na 4a revolução industrial

ABRIG: Hyperloop TT se apresenta como transporte do futuro. Já que a humanidade não vê um novo meio de transporte há mais de 1 século. Quais os diferenciais entre este veículo e um trem tradicional?


MENDOLA: Em 2013, Elon Musk apresentou um projeto de um veículo que flutua sobre rolamentos de ar, navega dentro de um tubo de vácuo, viaja a incríveis 1.200km/h e está sendo desenvolvido pelo sistema de “croudsorcing” Jump Start Fund, além de remunerar os profissionais envolvidos no projeto com ações do mercado futuro da empresa. Basicamente nosso fundador, Dirk Ahlborn, tornou o projeto público, em “open source”. Dias depois recebeu uma enxurrada de sugestões de colaboradores espalhados pelo mundo, engenheiros, cientistas, gente apaixonada pela inovação. Quando viu tamanha participação, decidiu que o ideal seria criar uma empresa e assim surgiu a Hyperloop TT, selecionando a mim e mais uma centena dos colaboradores que reagiram à chamada, dando início aos trabalhos. Após um par de meses a equipe comprovou que o projeto era viável. Em seguida, veio um período de desenvolvimento tradicional, quando transformamos a “startup” em empresa. Seguimos trabalhando no formato de remuneração por ações e hoje temos colaboradores em mais de 40 países.


Hyperloop é um modelo de transporte do futuro, que opera com energia renovável, em formato sustentável. Capaz de transportar passageiros e carga, dentro de um tubo de vácuo. Aprendemos como fazer desta uma plataforma de custo atraente, com retorno do investimento em menos de 20 anos. Aí mais uma novidade, pois normalmente os meios de transportes são investimentos públicos, a fundo perdido. Esta novidade deve trazer o interesse do setor privado em participar dos investimentos. Discutimos muito isso com os “stake holders” pelo mundo afora.


ABRIG: Aqui no Brasil, mais precisamente em Porto Alegre, temos um projeto chamado Aeromóvel, veículo suspenso movido ar, mas que não atinge altas velocidades por estar exposto à atmosfera. Quais as diferenças básicas entre este e o Hyperloop?


MENDOLA: Nós basicamente colocamos o veículo dentro de um tubo de vácuo, o suspendendo por levitação com ímãs. O que acontece aos veículos que trafegam de frente para o ar é que, acima de 350 km/h, a energia dispendida para levar o equipamento adiante é imensa. É como se houvesse uma parede de ar líquido impedindo o veículo de se mover mais rápido. É por isso que os aviões precisam subir a grandes altitudes, onde o ar é mais rarefeito, para desenvolver altas velocidades. Basicamente o que estamos recriando é esta atmosfera rarefeita, só que ao nível do solo. Removendo o ar de dentro dos tubos, não existe essa fricção para impedir a alta velocidade, que é o fator que limita trens de alta velocidade. Por isso dizemos que é um novo meio de transporte; consegue se locomover muito rápido sem queimar o tanto de combustível que um avião precisa para alcançar os 10 mil metros de altitude.


Ao mesmo tempo que o uso de levitação magnética torna o veículo mais confiável em grandes velocidades, onde o contato de rodas deixa de ser confiável. Estas são as duas diferenças básicas entre os sistemas.


ABRIG: E os custos de implantação da plataforma, são competitivos?


MENDOLA: Normalmente comparamos o Hyperloop com os trens de alta velocidade, que são as plataformas mais próximas. Na maioria das comparações somos bastante competitivos, em função dos custos, até porque é preciso levar em consideração a variação de custos de implantação. Enquanto na Espanha o custo pode chegar a 20 Milhões de Dolares/km instalado, na California este valor sobe para U$ 100 Milhões/km. Nossa plataforma chega a custar menos, em alguns casos e a variação não é tão grande. Ainda temos a vantagem de poder construir o tubo suspenso, ou subterrâneo e até mesmo junto ao solo, o que reduz bastante o custo. É um plataforma adaptável.


ABRIG: Sua utilização é tanto urbana quanto interurbana?


MENDOLA: Ambas. Podemos criar soluções urbanas subterrâneas, conectando o aeroporto principal com um secundário de um centro urbano, por exemplo.


ABRIG: Qual lhe parece ser o papel dos profissionais de RIG na formação desta cultura?


MENDOLA: Trabalhamos em um marco regulatório que possibilite aos profissionais de RIG a formação das parcerias com os “stake holders”, aproximando governos e iniciativa privada para investir no Hyperloop, como solução de transporte para países ou regiões. Normalmente promovemos estudos para a implantação do sistema, adequado às demandas e capacidades da região afetada, promovendo sua viabilidade. Nossa vantagem é ter um ecossistema múltiplo; tanto transportamos passageiros como levamos carga, seja de Pitsburg a Cleveland e Chicago, ou de Abu Dhabi a Al Ain. Temos uma vantagem sobre o trem tradicional, pois este precisa de um alto número de passageiros para que faça sentido sua partida, enquanto que nossa plataforma pode partir com 30 passageiros a cada 14 segundos. Ao mesmo tempo em que, todos os estudos que fizemos, mostram capacidade de geração de lucro.


ABRIG: Há uma década o governo do Brasil iniciou estudos para ligar as duas maiores cidades do país por um trem de alta velocidade. São Paulo, que fica no planalto seria ligado desta forma ao Rio de Janeiro, que fica ao nível do mar. Isto também pode ser feito com Hyperloop?


MENDOLA: Não vejo porque não. Este é nosso objetivo: ligar dois centros de tamanha importância. Não foram feitos estudos a respeito, mas tenho certeza de que seria viável. É claro que é preciso fazer estudos para reduzir oscilações bruscas entre a montanha e o mar. Hyperloop pode fazer isso, mas o corpo humano sente estas alterações. Quando se está num jato em altíssima velocidade, nada se sente, a menos que o equipamento tenha que fazer uma curva, ou tenha solavancos com a turbulência. Temos que resolver com suavidade a diferença entre a altitude e o nível do mar.


ABRIG: Como empresa com tecnologia de ponta, qual você julga serem os gargalos ao negociar com culturas ainda não acostumadas a isso?


MENDOLA: Acredito que o desafio seja em passar a ideia de que todos temos o mesmo conceito de valor no propósito. Precisamos levar em consideração as questões ambientais de cada região, observando que algumas partes do mundo são mais ambientadas a meios de transportes modernos, outras menos.


Você acredita ser fundamental o papel do profissional de RIG na indução dessa nova cultura?


MENDOLA: Totalmente. Primeiro porque eles são as pessoas que acreditam no projeto e, por segundo que eles podem se remunerar através das ações da empresa no mercado.


ABRIG: Seu modelo de transporte está adequado à pandemia?


MENDOLA: É triste ver que os meios de transportes tradicionais não conseguiram se adaptar à pandemia. O que estamos fazendo em Hyperloop é trazer para nosso projeto todas as novidades em termos de evitar ou diminuir a contaminação. Temos a vantagem de poder estudar séculos de tecnologias de transporte e poder aprender com as inovações trazidas através do tempo.


Andrea La Mendola é responsável pelas relações institucionais com stakeholders das políticas públicas. Na empresa desde 2015, Andrea é co-fundador e dirigente da Indyca, produtora de entretenimento, que já conquistou 50 premiações em festivais de cinema internacionais. 


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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