Para o Brasil atingir as metas da Agenda 2030, estabelecida no Fórum Econômico Mundial, teremos que ver um Protagonismo do Legislativo para a criação das condições políticas legais e institucionais rumo ao desenvolvimento do Brasil segundo as Guidelines do Fórum Econômico Mundial. O Deputado Federal Roberto de Lucena, Podemos-SP, esclarece em que ponto andamos e no que avançar.
ABRIG: Deputado, o Sr. conhece a tese do Great Reset? Qual a sua opinião sobre este grande recomeço para a humanidade, através de novas métricas ambientais, sociais e de governança globais?
LUCENA: Estamos caminhando para um entendimento, onde seja irreversível que se pense numa forma de governança mundial. Uma nova oportunidade de discutir, sobretudo, distribuição de renda, economia, índices sociais, desenvolvimento sustentável, envolve uma discussão da agenda ambiental planetária. O mundo está sentido que a ONU está sendo um modelo insuficiente no enfrentamento das questões globais. Por isso se faz necessário uma nova governança mundial.
ABRIG: Como o Congresso vem preparando as instituições e arcabouço legal brasileiro para tornar isto possível até 2030?
LUCENA: O Congresso não está muito envolvido na discussão dessa pauta. Há muita resistência e muita dúvida quanto a essa proposta, principalmente por parte da bancada mais conservadora, que vê nisso uma ideologia ainda não clara, não definida. Evidentemente, no curso das discussões, nós devemos sensibilizar o Congresso de que é inevitável que o Brasil se prepare para este momento. Cabe ao Congresso Nacional ter protagonismo nesse debate.
ABRIG: Qual o papel que o Sr. vê, devem exercer os profissionais de RIG neste processo?
LUCENA: É fundamental porque são agentes que tornam viável este processo no Brasil. Eles dão voz aos cidadãos, às instituições, promovem as conexões. A participação deste profissional é e será imprescindível. Uma nova governança global é uma demanda planetária.
ABRIG: Uma das métricas da agenda 2030 se refere especificamente à sustentabilidade ambiental, justamente o maior ponto de atrito do Brasil com a comunidade internacional. O que o Congresso está colocando em prática a esse respeito?
LUCENA: Sou um ambientalista, presido o “Podemos Verde”. A pauta ambiental é uma pauta cara para nós. No Congresso defendemos o governo, mas em muitos momentos tivemos posições conflitantes. Mesmo assim, no Brasil, apesar de tudo, em relação à Europa, nós damos um show em face ao comportamento ambiental. A Europa não protegeu seu meio ambiente, não protegeu suas florestas. A França saiu pelo mundo contaminando tudo com cádmio e chumbo. Aqui em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, tivemos o maior caso de contaminação por cádmio e chumbo do planeta, que deixou 4mil trabalhadores e suas famílias contaminados. Essa empresa francesa é dona de 25% do chumbo no mundo. A prática deles é extrair o que podem, depois levantar o arraial e irem embora. Foi o que eles fizeram com o Brasil. O que acontece no lado francês da Amazônia, é uma coisa complicadíssima. Eu defendo que nós não flexibilizemos nossa política ambiental. Temos uma boa legislação ambiental, que precisa ser aperfeiçoada, mas sem retroceder.
Precisamos defender a floresta, pensando também nos habitantes dali e, se nós oferecermos a eles a possibilidade de desenvolver sem precarizar a floresta, mostrando que preservar é rentável, ao mesmo tempo em que aplicarmos legislação, esses cidadãos vão conseguir tirar seu sustento sem destruir o ambiente.
ABRIG: O mundo não quer que o Brasil aumente suas fronteiras agrícolas, mas o mundo não quer abrir mão dos alimentos aqui produzidos. Como se resolve isso?
LUCENA: Hoje, nós temos a maior área agriculturável do planeta. Para continuar o desenvolvimento do agronegócio há muito espaço, sem que a floresta seja atingida. Nossos empresários do agro investiram muito e temos cada vez mais produtividade, com menos danos ambientais. Lembrando que parte da Europa ainda usa matriz energética de carvão, assim como a China. Incrível isso. Nós não, nós temos uma base energética renovável, temos energia solar e outra modalidades como a eólica. Em 2014, o Congresso Nacional criou o GPONU que só conseguimos instalar agora e sou o Presidente deste grupo, onde vamos estar conectados com a ONU e poder entregar as metas estabelecidas pelos 17 ODS. Este grupo vai trazer essa discussão para dentro do Congresso.
ABRIG: Estamos vendo que, nesta próxima década, haverá um movimento natural de gente saindo das periferias das grandes cidades, tomando o rumo do campo, que é onde estarão os empregos. O que o parlamento pode fazer para viabilizar essa nova migração com segurança?
LUCENA: Isso será natural. Precisamos é preparar o campo. É preciso que chegue a infra-estrutura, é preciso que haja cobertura de internet, é preciso que o campo seja um lugar seguro. É o fluxo natural, é aquilo que nós teremos nos próximos anos, com novas profissões, com novas tecnologias.