O presidente da Confederação Nacional de Transportes (CNT), Vander Francisco Costa, afirmou, em entrevista à Abrig, que o setor vive na expectativa da nova rodada de concessões de rodovias para o ano e ampliação do investimento em infraestrutura para reduzir o custo de produção no país.
Abrig: Olhando em retrospecto, como a CNT avalia o programa de concessão de rodovias do governo federal e quais os desafios para os próximos anos dentro deste modelo?
Vander Francisco Costa: Há grandes expectativas de que as concessões de rodovias comecem, pois há divulgações, promessas, números entusiasmantes, mas, até agora, nada aconteceu. Nos decepcionamos quando vemos a Dutra, que era para ter tido a concessão renovada no ano passado, e teve a concessão prorrogada sem redução no pedágio. Estamos ansiosos para ver o edital da Dutra, e também que, para o próximo ano, os problemas de rodovias do governo Dilma sejam resolvidos e a Peça 1400262 seja retomada. Esperamos que o programa entre em prática, pois até agora, estivemos pagando pedágios sem obras. As obras nas estradas são necessárias para a geração de emprego e melhoria na estrutura.
Abrig: Como avalia esforços recentes do governo, como o Marco Legal das Ferrovias (MP 1.065), dentro do contexto de desenvolvimento do país? Há algum aprimoramento a ser feito nessa proposta?
Vander Francisco Costa: É necessário que haja uma obrigação maior ao direito de passagem, para que os outros operadores utilizem as ferrovias e haja concorrência, assim como é feito na Alemanha e Estados Unidos. Dessa forma, deve haver um estímulo para trazer operadores ferroviários ao Brasil, não apenas pessoas que queiram dominar a ferrovia com uma finalidade específica. Segundo o Governo, a autorização é o único meio de atrair capital para investimentos e, sendo assim, aplaude-se o desenvolvimento do ferroviário, mas, sabemos que não é dessa forma pela qual o Custo Brasil se reduzirá.
Abrig: O cenário de incertezas e instabilidade política tem afetado investimentos no setor rodoviário? Ou nossos ativos continuam atraentes, apesar das tensões?
Vander Francisco Costa: A tensão política gera muito desestímulo. Esperamos que, a partir do final do ano de 2022, a tensão política se encerre, independente do resultado das eleições. Temos duas opções, o Bolsonaro reeleito ou um novo governo. Mas, de qualquer forma, quando há um encerramento de ciclo, de um mandato, há um período de estabilidade com maiores possibilidades de reforma e promoção do crescimento econômico. Assim, acredito que terá resistência da parte dos investidores céticos que podem ficar desestimulados de virem ao Brasil, mas, esperamos que as concessões previstas para esse ano de 2021 tenham investimento e resultados positivos. As obras mais audaciosas podem gerar um pouco mais de resistência.
Abrig: Recentemente, tem se falado da abertura do mercado rodoviário para novos players. Como avalia essas iniciativas de atrair novas empresas para operar no Brasil?
Vander Francisco Costa: Há muitos fundos de investimentos com interesse no Brasil e no mercado de concessões, mas, acredito que é mais fácil a consolidação entre empresas brasileiras do que com estrangeiras. Conviver com a Justiça trabalhista ainda é um problema de atratividade do pensamento estrangeiro, pois, muitas vezes, não vota de acordo com a lei por conta de ideologias. Já existe uma nova geração de magistrados, comprometidos a julgar de acordo com a lei. É necessário que haja segurança para os que cumprem a lei integralmente.
Vander Francisco Costa, atual presidente da CNT é um dos fundadores da Vic Transportes (1982), grupo empresarial com atuação no setor rodoviário de cargas. Foi presidente do Setcemg (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais), entre 2002 e 2008 e da Fetcemg (Federação das Empresas de Transporte de Carga de Minas Gerais).