Abrig: Considerando a importância da regulamentação da atividade de relações institucionais e governamentais em diversos países da América do Norte, Europa e recentemente em países da América do Sul, como Chile, qual sua opinião sobre a regulamentação da atividade em nosso país?
Kim Kataguiri: A atividade deve ser regulamentada e transparente, pois é legítimo que a sociedade, empresas e associações apresentem seus argumentos e façam pressão no Congresso Nacional, mostrando seus interesses. Mas, isso deve ser feito com transparência, a atividade não deve ser tratada como clandestina, como feito atualmente.
Abrig: O Ministério do Trabalho reconheceu a atividade de RIG como ocupação em 2018. Em 2020, a Abrig lançou a prática recomendada para a atividade, visando estabelecer uma política de ética e transparência no relacionamento entre o público e o privado. O que o sr. acha que falta para que avancemos ainda mais nessa pauta e tenhamos uma legislação aprovada sobre o assunto?
Kim Kataguiri: Para a aprovação da regulamentação da atividade é necessário desmistificar o conceito da atividade. Isso pode ser feito mostrando pra sociedade que muitos debates existentes no Congresso Nacional são pautados por fundamentações técnicas que essas entidades levam, além de darmos exemplos de votações em que as empresas e associações promoveram a aprovação ou rejeição de projetos, com base no interesse público que, muitas vezes, confunde-se com o interesse de determinado setor.
Abrig: O sr. compreende que os movimentos sociais, quando organizados, representam importantes agentes de RIG com poder de interferir na agenda pública do país?
Kim Kataguiri: Os movimentos sociais são, sem dúvida nenhuma, instrumentos de pressão de RIG e, tem poder, não só de interferir na agenda política e pública, mas de pautar e decidir o que vai ser votado e o que não. Inúmeras votações, em razão da pressão popular, aconteceram ou deixaram de acontecer. Esse é um trabalho absolutamente legítimo de representação dos interesses da sociedade.
Abrig: O Brasil é o país que atende, atualmente, o maior número de requisitos exigidos para ingresso na OCDE. Considerando que a regulamentação das relações com os agentes públicos é um dos requisitos para o ingresso na Organização (transparência), o sr. acredita que esta agenda passa a ser importante não só por questões de integridade, mas também para a retomada econômica do país, em especial no pós-pandemia?
Kim Kataguiri: É uma agenda fundamental para a retomada do crescimento, é excelente que o Brasil esteja de acordo com critérios internacionais e se adeque a critérios da OCDE. Um dos principais pontos é a falta de transparência e percepção de que a corrupção aumentou, justamente pela visão do parlamento e do lobby, como se fosse um “balcão de negócios” onde negociações fechadas são feitas e interesses escusos são defendidos, sabemos que não é assim, existem muitos debates que acontecem às claras e com interesses legítimos que são transparentes e isso está em concordância com o que acontece em democracias desenvolvidas.
Em 2018, Kim Kataguiri foi eleito Deputado Federal por São Paulo, sendo o 4° Deputado mais votado do país. Em 2019 entrou na lista de pessoas mais influentes do país abaixo de 30 anos pela Forbes.