Oportunidades e regulação no contexto da sustentabilidade


Julia Fonteles, formada em Economia e Relações Internacionais pela George Washington University e mestranda em Energia e Meio Ambiente pela School of Advanced International Studies, Johns Hopkins University fala, para a  Revista Abrig Digital sobre oportunidades e regulação no contexto da sustentabilidade. 


Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

ABRIG: Considerando as novas condições e conhecimento sobre o meio ambiente e a sustentabilidade do Planeta, quais são as importantes iniciativas no mundo que estão sendo realizadas atualmente?


Atualmente, com o contexto da COVID-19 e recessão mundial que muitos países estão passando, a tendência é juntar os Planos de Recuperação Econômica, de governos mais desenvolvidos e utilizá-los em países em desenvolvimento, reunindo iniciativas para que a recuperação não seja só econômica, mas também no âmbito sustentável.


A respeito disso, a União Europeia é um exemplo pois neste ano, lançou um plano que abrange o mercado de Carbono, imposto sobre carbono, importações do carbono e investimentos em hidrogênio. No caso do hidrogênio, está sendo uma solução verde e pode vir a substituir o gás natural, que é bastante utilizado na Europa e Estados Unidos para a geração de energia, principalmente no inverno. O hidrogênio promete substituir o gás natural e, mesmo sendo uma produção muito cara e em desenvolvimento, há pesquisas que afirmam que ele poderá ser produzido através de energias renováveis. Isso tem sido um investimento muito importante na União Europeia.


Os Estados Unidos, por sua vez, estão um pouco atrás neste desenvolvimento. Outra tecnologia que ambos os países estão desenvolvendo é a captura de carbono, tecnologia importante que tira o carbono da atmosfera. Se essa tecnologia funcionar, será muito bom, pois significará que a estrutura funciona, ou seja, as pessoas não vão precisar perder os empregos dentro da indústria fóssil.


Outro país importante neste contexto é a China, pois emite muito carbono e sempre se posicionou “fora” dos assuntos climáticos, o que, felizmente, mudou neste ano. O presidente da China anunciou um plano de redução de carbono até 2060 e, também, um plano de instalação do mercado de carbono na China.


Em resumo, juntar a recuperação econômica com o desenvolvimento é o caminho. Todos os países estão falando sobre o assunto, mas, a União Europeia é o conjunto de países que realmente está investindo e aplicando recursos nesse setor renovável e livre de carbono. 


ABRIG: Quais oportunidades o Brasil tem nesse novo contexto de sustentabilidade para potencializar seu desenvolvimento econômico?

A maior riqueza do Brasil, atualmente, é a Amazônia. E, por contrapartida, a que está sendo mais judiada pelo governo que, em tese, seria o responsável pela tentativa de melhorar esta questão. Então, pra quem vê de fora, é um paradoxo muito grande. Não dá pra entender as novas políticas brasileiras pois, claramente, viabilizam o desmatamento. Então, é uma questão que está além da iniciativa privada.


Além disso, o Brasil também é uma potência agrícola gigante. Há muitas oportunidades nesses setores de desenvolvimento tecnológico, como a criação de iniciativas mais sustentáveis para a plantação e, principalmente, na produção de fertilizantes. O Brasil, como os demais países, deve se auto avaliar e observar quais os setores que mais afetam e produzem gás de efeito estufa. No caso do Brasil os setores são o transporte, agricultura e desmatamento. Então, se formos focar nesse três, que são muito difíceis, mas possíveis, temos muitas oportunidades de investimentos. Assim, é realmente necessário que haja legislação e regulamentação adequadas para que as oportunidades da agricultura e biocombustíveis deem certo e, para que o Brasil consiga exportar para o resto do mundo.


ABRIG: O mercado de crédito de carbono é uma das grandes oportunidades para empresas e governos. Do ponto de vista da legislação e regulação, quais são os pontos importantes que o Brasil deveria ficar atento?

O mercado de credito de carbono é uma das soluções. Mas, ele não funciona sozinho, pois se trata de uma solução a longo prazo. Ao meu ver, muitos países precisam desse mercado. A China, é um dos exemplos, pois possuem formas de monitorar a indústria, o que viabiliza. Por outro lado, para o Brasil, como os setores que mais pesam são a agricultura e o transporte, o mercado deve ser voltado para esses setores, ou seja, se for pra regular, deve-se regular o mercado de fertilizantes e de combustível, deve ser uma coisa pontual. Do ponto de vista da legislação e regulação, cada setor deve ter sua legislação específica. Por fim, é importante que o Brasil estabeleça metas e saia do “abstrato”, com isso e com o foco nos setores específicos, com certeza terá êxito e poderá recuperar um pouco sua reputação no exterior.


ABRIG: Como uma brasileira, radicada nos Estados Unidos, atuando e estudando no tema da sustentabilidade, vê como o Brasil pode potencializar ações e projetos em parceria com os Estados Unidos?

De imediato, é necessário que ambos os países estabeleçam um bom diálogo. Com esse diálogo, devem vir iniciativas que ajudem os dois países. Os dois países são de populações e dimensões grandes e que tem muitos recursos naturais. Na questão do biocombustível, por exemplo, eles são rivais em alguns pontos e aspectos, mas, acredito que existam oportunidades para uma cooperação na nova tecnologia livre de carbono. Após o entendimento de que o objetivo é a melhora mútua, o biocombustível seria o primeiro setor de cooperação entre os dois países, pois ambos entendem muito, principalmente na questão de fertilizantes. Há muitas oportunidades para cooperar, mas, pra isso, o Brasil deve mostrar comprometimento na redução do desmatamento. Quando o Brasil entender e resolver essa questão, parar de flexibilizar legislações que desmatam, as portas serão abertas para outras conversas e investimentos futuros.

*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  

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