ESG e os temas matérias de cada setor

Arelação entre as empresas e seus acionistas (shareholders) mudou com a adoção recente de práticas ESG. Os indicadores de performance financeira demonstram maior valorização e menor volatilidade dos ativos vinculados a sustentabilidade. Logo, práticas relacionadas à sustentabilidade passaram a ser consideradas como estratégia financeira das empresas. Dentro dessa lógica, mecanismos financeiros de longo prazo estão construindo alternativas vantajosas de crédito para empresas que adotarem as práticas de ESG, assim como encarecendo o carbono.

As partes interessadas (ou stakeholders) também estão buscando nas empresas externalidades positivas para além dos resultados financeiros. Logo, os negócios estão se adaptando para demonstrar o seu impacto positivo, levando o seu propósito a todos aqueles que conseguem engajar: colaboradores, clientes, fornecedores, comunidade local. Essa convergência de interesses tem demonstrado que essa estratégia deixa aos poucos de ser um diferencial para ser algo essencial para a sobrevivência das empresas.


A maior comunicação com as partes interessadas é um elemento marcante do método ESG. O investimento nos colaboradores, com olhar mais humano sobre a sua saúde, melhora a retenção por meio de recompensas atrativas. A mitigação de risco, com vista à geração de rentabilidade de longo prazo, leva o olhar sobre a pegada de carbono. As empresas estão sendo chamadas ainda a aumentar o seu apoio às comunidades em que estão inseridas, exercendo papeis de política pública. Negociações justas e éticas com os fornecedores chamam atenção para a criação de valor para todas as partes, provocando maior responsabilidade das grandes empresas com as pequenas empresas com que se relacionam.


Os benefícios para as empresas que têm ESG na estratégia podem ser resumidos em aumento dos lucros e uma reputação institucional mais forte a partir do propósito, capaz de aumentar a resiliência em frente aos desafios socioeconômicos e ambientais, e consequentemente a sobrevivência do negócio. Consulta realizada com 100 empresas pela CNI (2022) apresentou como cinco maiores benefícios: mitigação dos riscos (51%), valorização da marca (42,9%), uso sustentável de recursos naturais (40,8%), incremento na competitividade (38,8%), melhoria da imagem (32,7%). Pesquisa da McKinsey (2019) indica que o método ESG pode representar um acréscimo no lucro em até 60% só na redução de custos operacionais. Os mecanismos de anticorrupção, transparência e ética também são fortalecidos. Startups que reportam suas ações de sustentabilidade performam melhor em quase 5% de acordo com Harvard Business School (CAMUS, 2021).


Estudo realizado pelo Sebrae (2022), por meio de levantamento da performance ESG das empresas brasileiras em agências de ratings nacionais e internacionais, ao comparar as boas práticas das 20 melhores empresas em ESG, demonstrou a concentração em alguns temas materiais.  O “fornecimento responsável” foi indicado por 80% das empresas, com princípios de compras sustentáveis, fornecedor responsável e uma preocupação com toda cadeia de valor. Código de Ética e Direitos Humanos foi priorizado por 70% das empresas. 50% relataram o seu trabalho em compras locais, com incentivo e o desenvolvimento de MPEs em seu território. Trabalho Decente e Economia Circular (com reciclagem, redução de resíduos e descarte e combate às mudanças climáticas) aparecerem como temas materiais em 35% delas. Apenas 20% indicaram projeto de eficiência energética na cadeia e gestão de águas.


O Comitê ESG da Abrig dará início a uma rodada de discussões para tentar indicar os principais temas matérias priorizados em cada setor. Nos próximos meses, traremos a perspectiva nacional ESG nas cadeias de agronegócio, construção civil, energia, alimentos e bebidas. Com o olhar de política pública, busca-se compreender espaços de convergência com os diferentes entes da federação a partir da resposta privada. Espera-se, com isso, fomentar a comunicação com todas as partes interessadas de alcance dessa associação diante do propósito da Abrig de compromisso com a ética, o diálogo e a transparência.


Por: Gustavo Cezário, presidente do Conselho Fiscal da Abrig e membro do Comitê ESG, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, especialista em políticas públicas e gestão governamental, master in Public Administration e professor colaborador na Escola Nacional de Administração Pública.  Atualmente, exerce Relações Institucionais do Sebrae Nacional, vinculado à diretoria técnica. 



*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  

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