COP 27: diálogo é o melhor caminho para encontrar consenso

O presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil – entidade associada à Abrig –, Reginaldo Arcuri, diz que a preservação das florestas é um dos diferenciais que podem ser explorados pela indústria farmacêutica instalada no Brasil para pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. “Temos associados que investiram em projetos de inovação a partir de insumos da flora brasileira para fomentar tratamentos médicos e promover a conservação ambiental e o desenvolvimento social”, afirma. Confira a entrevista completa.

ABRIG: A COP 27, realizada este ano no Egito, ampliou o debate sobre assuntos urgentes, como a meta de temperatura global, economia de baixo carbono e transição energética e fundo de perdas e danos. O que podemos esperar de resultado concreto após esse intenso debate que trouxe novas demandas para o mercado?


REGINALDO ARCURI: Ficou claro, durante a COP 27, que é preciso avançar na direção de uma economia de baixo carbono. A indústria brasileira já tem adotado práticas para o melhor aproveitamento dos recursos naturais há bastante tempo. Nossa estratégia passa por quatro pilares: transição energética, com a diversificação das fontes renováveis, como eólica, solar e bioenergia; economia circular, que busca reaproveitar ao máximo os recursos e evitar o desperdício; conservação florestal, com ações para evitar o desmatamento e recuperação dos biomas; e mercado de carbono, cuja regulamentação está em debate no Congresso Nacional. Mas ainda temos um longo caminho pela frente.


ABRIG: Segundo algumas notícias veiculadas na mídia, a União Europeia esperava debates mais aprofundados durante a COP 27. Na sua opinião, quais temas deveriam ter ganhado mais destaque no debate?


REGINALDO ARCURI: De uma maneira, geral, os principais temas foram debatidos durante a Conferência. Esse é um processo complexo, que envolve interesses, às vezes, divergentes, mas o diálogo é a melhor maneira de encontrarmos um caminho de consenso. Nesse sentido, considero mais importante destacar os avanços obtidos: 1) a decisão de criar um fundo de reparação de perdas e danos para países mais vulneráveis e 2) a inclusão, pela primeira vez, da menção a florestas e às soluções baseadas na natureza.


ABRIG: Tendo em vista a importância do Brasil no debate ativo quanto às questões de preservação e projetos ambientais, quais ações nacionais serão essenciais para estabelecer bons resultados em prol das decisões da COP 27?


REGINALDO ARCURI: A matriz energética brasileira já conta, hoje, com 84% de fontes renováveis e o país vem avançado no uso de energia solar e eólica, além das pesquisas para produção e uso do hidrogênio verde. Mas, devido à riqueza dos biomas brasileiros, fonte, inclusive, de pesquisa para o desenvolvimento de novos medicamentos, acredito que a preservação das florestas, assim como o reaproveitamento de materiais geralmente descartados e o gerenciamento de resíduos são ações importantes que vão contribuir para o cumprimento da metas do Acordo de Paris.


ABRIG: O Plano de Implementação Sharm El Sheikh apresenta a urgência em trabalhar, de forma mais ampla e multisetorial, contra as crises climáticas, além de proteger e recompor a natureza e seus ecossistemas de forma sustentável. De que forma as empresas podem contribuir para o alcance desses objetivos?


REGINALDO ARCURI: Segundo o estudo Sustentabilidade na Agenda das Lideranças da América Latina, divulgado pela SAP, o Brasil, com 68% das empresas, é o país com maior adesão de práticas relacionadas a ESG (Ambiental, Social e Governança) na região. Entre nossas associados, muitos vêm reforçando seus investimentos em PD&I de produtos a partir de plataformas focadas na biodiversidade brasileira, que é a mais rica e diversa do mundo, abrigando mais de 20% do total de espécies do planeta. Também houve ampliação do uso de energias renováveis; adoção de políticas de reaproveitamento de materiais, uso de embalagens menos poluentes e/ou a partir de material reciclado, gerenciamento de resíduos e reuso de água. Mais de 3,6 mil pontos de coleta de medicamentos foram implantados no Brasil em 2021, evitando que 53 toneladas de remédios fossem descartadas de maneira inadequada no meio ambiente, beneficiando mais de 70 milhões de brasileiros.



Reginaldo Braga Arcuri, presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil (GFB), é graduado em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e possui especialização em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense (UFF).  Também é presidente da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB) e membro da Diretoria da CNI (Confederação Nacional da Indústria).


Foto: Sérgio Lima



*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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