Crédito de carbono: o que está sendo estruturado na legislação brasileira

ABRIG: Os desmatamentos na Amazônia e em outros biomas brasileiros contribuem para o aquecimento do planeta e não beneficiam o país, seu povo e sua economia formal. Como é possível medir e gerenciar comportamentos de empresas para que a situação não tenha continuidade?


REBECA LIMA: O primeiro ponto é a transparência. É necessário que os diferentes setores perguntem o que as empresas fazem em relação ao tema e apresentem métricas e metas que reduzam o desmatamento. As emissões de mudança do uso do solo, desmatamento e agricultura, são 70% das emissões brasileiras. No Brasil, os atores do mercado devem pressionar empresas a serem transparentes.


ABRIG: Qual a melhor forma de gerir sistemas de créditos e mercado de carbono?


REBECA LIMA: Um sistema regulado de carbono pode ocorrer por mercado ou por taxação. Há governos que trabalham com diferentes modelos, mas, é importante que existam regras claras do mercado, com integridade nos créditos, ou seja, que eles efetivamente estejam associados à redução da emissão.


ABRIG: Qual a consequência para países ou empresas que optam por não tomar medidas para a redução das emissões de carbono?


REBECA LIMA: A questão climática não respeita fronteiras, então, uma tonelada de carbono emitida, no Brasil ou em outro país, causam o aumento do aquecimento global. Todos são parte da solução. Um país que não reduz as emissões vai, com certeza, estar exposto a barreiras diplomáticas ou comerciais. Empresas do agro acabam sofrendo muito com isso e, como o Brasil depende do ramo e falha em conter o avanço do desmatamento, outros países podem colocar sanções comerciais.


ABRIG: Com o avanço da agenda ESG, o mercado fez com que a energia limpa entrasse no radar de investidores em todo o mundo, que estão em busca de ativos com retorno sustentável para a sociedade e o planeta. Qual a importância da energia renovável para a economia brasileira e como isso impacta na agenda climática?


REBECA LIMA: A energia renovável é uma das soluções. Quando pensamos em solução climática, a questão energética é a número um, principalmente para sair da energia pautada no combustível fóssil. Mas, no contexto de crise hídrica, é bom para retomar que ainda assim precisamos trabalhar na explicação da nossa matriz energética para aumentar a fontes renováveis, como a solar e a eólica. As empresas devem buscar a participação de energia renovável dentro dessa fonte energética.


ABRIG: Este ano acontece a COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), e as nações mais pobres estão sendo as primeiras a sentir os impactos das mudanças climáticas. A pandemia pode ser considerada como agravante?


REBECA LIMA: Sim. A pandemia trouxe à tona crises para serem tratadas de maneira conjunta. Essas crises se somam ao contexto climático, no qual colocamos o país em situação vulnerável. É importante que discussões na COP tragam um olhar múltiplo da solução climática. E, entender quais são essas perdas e danos causados pela mudança climática, e se esses países vulneráveis vão ser os mais afetados.



Rebeca Lima é diretora-executiva da Carbon Disclosure Project (CDP) América Latina. Atua desde 2016 no CDP na liderança de trabalhos com empresas e cadeias de suprimentos para a América Latina e assumiu a diretoria executiva da organização em março de 2021.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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