Eficiência sustentável

ABRIG: A Natura é pioneira na adoção de políticas sustentáveis em sua cadeia de produção. Como foi enfrentar esse desafio lá atrás e como é colher os benefícios neste momento?


PAULO DALLARI: Desde sua fundação, em 1969, a Natura é uma empresa focada em ingredientes naturais, mas, foi no final dos anos 1990 que a marca tomou a decisão histórica de incorporar ingredientes da biodiversidade brasileira na fabricação de seus produtos.

A motivação foi o desafio de inovar em tecnologias sustentáveis, tendo a Amazônia brasileira como o coração desse projeto. Desenvolvemos um modelo de negócio que valoriza a economia da floresta em pé a partir da união entre ciência, natureza e conhecimento tradicional, estabelecendo assim um círculo virtuoso baseado na sociobiodiversidade.


ABRIG: A economia verde é uma realidade e uma necessidade em relação à sustentabilidade do mundo, mas a pandemia impôs grandes desafios. Isso é uma dificuldade ou oportunidade?


PAULO DALLARI: Não há dúvida de que é uma necessidade, mas, antes, temos que lidar com os efeitos diretos da pandemia, apoiando a população e o poder público. Passada a emergência, a economia sustentável e de baixo carbono é um grande caminho para acelerar a retomada econômica e o Brasil poderá ter uma vantagem competitiva importante. Porém, para construir um futuro sustentável pós pandemia, não podemos esquecer de tratar da agenda ambiental que já vem sendo um ponto de atenção importante para o Brasil e para o mundo.


ABRIG: Como a Natura busca garantir práticas sustentáveis e verdes em sua cadeia de produção?


PAULO DALLARI: O modelo de negócios da Natura opera com uma lógica de cooperação de todos os envolvidos na cadeia. Contamos com ferramentas de gestão como sistemas de rastreabilidade e de verificação das cadeias da sociobiodiversidade e atuamos em parceria com as 39 comunidades agroextrativistas na Amazônia para fornecimento sustentável de insumos da biodiversidade brasileira. Investimos em programas de capacitação e formação e dispomos de mecanismos de compensação de carbono dentro da própria cadeia de fornecimento, o que remunera famílias locais pela conservação da floresta em pé.


Na produção das matérias-primas vegetais utilizadas pela Natura são adotados, preferencialmente, sistemas ecológicos como o cultivo orgânico, os sistemas agroflorestais em diferentes arranjos e o manejo florestal não madeireiro.


ABRIG: Como a Natura vê o pós-pandemia para sua atividade? A empresa entende que haverá uma nova lógica de consumo sustentável que impacta diretamente produtos de higiene & beleza?


PAULO DALLARI: Acreditamos que o consumo consciente é um movimento que está ficando ainda mais relevante para todos os setores, inclusive o de higiene e beleza. Com a pandemia, ficaram mais evidentes os impactos das ações individuais em prol do bem-estar de todos. Isso faz com que consumidores passem a ter ainda mais consciência do impacto de suas escolhas pessoais. 

 
ABRIG: Como consolidar o Green New Deal como viável para toda a sociedade?


PAULO DALLARI: No lançamento da Visão 2050, no final de 2014, nossos fundadores apontaram que a Natura tem que contribuir para que os princípios da Sustentabilidade sejam o alicerce de outras formas de se construir o ambiente empresarial e a sociedade como um todo. Portanto, a busca por uma economia sustentável e de baixo carbono e a redução das desigualdades são os grandes desafios colocados para a humanidade e temos que resolvê-los.


ABRIG: A Natura é uma das empresas mais admiradas do Brasil. Vocês atribuem isso ao fato de serem uma marca que se confunde com sustentabilidade, boas práticas e transparência em governança?


PAULO DALLARI: Todo nosso modelo de negócios está baseado no desenvolvimento de oportunidades e negócios socialmente justos, ambientalmente corretos e economicamente viáveis. Hoje, há uma percepção maior sobre a importância dos serviços prestados pela natureza e a necessidade primordial de gerar impacto positivo em prol da preservação dos recursos naturais e da qualidade de vida das pessoas.


ABRIG: Para a Natura, o que o Brasil precisa fazer para combater o desmatamento ilegal?


PAULO DALLARI: No final do ano passado, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento formado por mais de 200 representantes do agronegócio, setor financeiro, sociedade civil e academia, e do qual a Natura participa, divulgou um documento que traz seis propostas para a redução imediata do desmatamento. Entre eles estão, a retomada e intensificação da fiscalização, a inclusão de critérios socioambientais para concessão de financiamentos e maior transparência nas autorizações de supressão da vegetação, entre outras medidas.


O Brasil tem grande potencial em gerar soluções baseadas na natureza e contribuir para enfrentar os desafios globais, além de aumentar a competitividade da indústria nacional e promover o bem-estar e inclusão socioeconômica para a população


ABRIG: Com o governo dos EUA, sob o comando de Joe Biden, haverá uma nova lógica em políticas ambientais, sobretudo em relação ao Brasil. Como, na opinião da Natura, o país deve proceder nessa área e como aproveitar o novo direcionamento norte-americano para fortalecer a política ambiental de preservação e sustentabilidade?


PAULO DALLARI: ​Somos os detentores da 2ª maior cobertura florestal, 20% da biodiversidade e 12% das reservas de água doce do mundo, além de uma matriz energética limpa e renovável, o que representa uma enorme vantagem competitiva. Há uma grande oportunidade colocada para o Brasil, mas, para aproveitá-la, o país precisa emitir sinalizações claras e compromissos ambiciosos no sentido da preservação do meio ambiente.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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