Petrobras investirá US$ 2,8 bi até 2026 em projetos de descarbonização

 A Petrobras, pela primeira vez, em seu plano de investimento plurianual 2022 a 2026, fez uma previsão para projetos de sustentabilidade. A previsão é colocar US$ 2,8 bilhões em atividades de descarbonização. Desse total, US$ 600 milhões serão voltados para investimento em bioprodutos, como diesel verde e combustíveis renováveis para aviação e transporte marítimo.


O diesel renovável já é uma realidade para a empresa, que aguarda autorização do governo federal para considerá-lo um biodiesel na forma da lei. A medida vai revolucionar toda a indústria porque, entre outros fatores, vai dar um novo objetivo para a refinaria, que hoje ainda está associada a uma produção industrial poluente.


Veja, abaixo, a principal visão da empresa sobre o processo de transição energética, as dificuldades e oportunidades e a importância da política de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) para a gestão da empresa.

ABRIG: Como está a discussão mundial sobre a transição energética do combustível fóssil para combustível verde?


ROBERTO ARDENGHY: A grande discussão é como atingir esse objetivo de maneira organizada e equilibrada. Hoje, não existe tecnologia que possa substituir de maneira eficaz e econômica o atual modelo energético mundial. O petróleo ainda é capaz de prover quantidade de energia para o mundo inteiro, em valor economicamente aceitável.


Para superar esse momento e trazer outras tecnologias, é preciso fazer a discussão econômica. Muitos lugares do mundo ainda não possuem acesso a outra fonte energética. O problema todo, portanto, é como fazer uma transição para evitar o aprofundamento da desigualdade energética.


ABRIG: Quais são os grandes desafios para a transição energética?


ROBERTO ARDENGHY: São quatro. O primeiro é o da métrica. É preciso ter uma norma para contar corretamente a emissão de gás, utilizando dados reais e eficientes. O segundo é o da precificação do carbono para se ter um valor adequado. A Petrobras, por exemplo, tem 100 mil hectares de florestas protegidas. Gostaríamos de poder compensar as emissões com essas matas.


O terceiro é a velocidade na qual a transição ocorrerá. Devemos sair da ambição por determinado objetivo e realizar um debate para evitar a desigualdade energética.

O quarto debate é a tecnologia. Atualmente, não existe tecnologia viável para se chegar em 2050 com emissão líquida zero de carbono. É necessário, ainda, um esforço enorme de pesquisa e desenvolvimento para que se possa chegar a 2050 com essa tecnologia.


ABRIG: Qual a importância do ESG na gestão da Petrobras e na formulação das políticas da empresa?


ROBERTO ARDENGHY: Essas três palavras formam pilares absolutamente fundamentais para a Petrobras. Da maneira como o mundo hoje está organizado, não se pode imaginar nenhum tipo de processo de descarbonização, de melhora tecnológica ou de exploração de um campo de petróleo, sem contar a dimensão ambiental e social.


Nós já produzimos o petróleo mais descarbonizador do mundo. Mas, não basta fazer a extração sem termos a consciência de que temos a responsabilidade de sermos um agente transformador da sociedade, da saúde, da educação, e na relação entre a empresa e o poder público.


ABRIG: A Petrobras planeja elevar o investimento no setor verde da economia?


ROBERTO ARDENGHY: Entre 2022 e 2026, vamos alocar US$2,8 bilhões em atividades de descarbonização. Desse total, US$ 600 milhões serão destinados a investimento em bioprodutos, por exemplo, o diesel renovável, o BioQAv (bioqueronese renovável de aviação) e o BioBunker, que é o combustível marítimo.


O diesel renovável já é uma realidade. Já estamos prontos para produzir. A diferença dele para o biodiesel produzido no Brasil é que ele é feito na refinaria e pode ser 100% renovável. Além disso, tem uma emissão de carbono 20% menor ao produto disponível hoje no mercado.


Para tanto, basta o governo autorizar que esse produto seja considerado biodiesel para fins da lei, pois ela prevê uma mistura exata do biodiesel no diesel. Quando isso acontecer, ocorrerá uma revolução. E, acima de tudo, dá um objetivo a mais para uma refinaria. Ao trazer essa nova linha de combustíveis verdes, você traz para a refinaria uma nova tecnologia.


ABRIG: Qual a previsão para sair essa autorização?


ROBERTO ARDENGHY:  O Conselho Nacional de Política Energética já indicou que está fazendo um estudo sobre o tema com um grupo técnico. A Petrobras espera que, ainda no primeiro trimestre do ano de 2022, saia essa decisão.


Entrevista com Roberto Ardenghy, ex-diretor de Relacionamento e Sustentabilidade da Petrobras.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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