Durante a COP 26 foi destacado a importância do trabalho dos povos originais e comunidades nativas, que atuam em harmonia com o meio ambiente e com modos de produção artesanal. Referência na aplicação de produtos artesanais de origem brasileira para o mercado internacional de moda e design, Samuray Martins é o criador do Projeto Akra. O projeto conta com a parceria de artesãs do nordeste brasileiro e visa especialmente o resgate do uso de fibras naturais.
Samuray, brasileiro radicado na Bélgica há 16 anos, levou a beleza do artesanato brasileiro para todo o mundo. As tramas produzidas com desenhos surpreendentes e acabamento impecável conquistam o mundo em projetos de grandes marcas nacionais e internacionais. As peças que são produzidas nas comunidades que fazem parte do Projeto Akra, visam fomentar uma rede de beneficiamento socioeconômico gerando renda, empregos e instrução para as regiões atendidas pela iniciativa.
O projeto conta com mais de 150 artesãs, que com suas mãos e mentes habilidosas, trabalham na confecção de bolsas, acessórios e peças de homewear. Todas as peças são o resultado da fibra do buriti e piaçava oferecidos pelos estados do Maranhão e Bahia. Uma bolsa, por exemplo, pode levar em média uma semana para ficar pronta, levando em conta todo o processo artesanal, desde a extração do linho do buriti até o acabamento final do produto.
O projeto Akra é hoje uma das referências no mercado internacional quando o assunto é beneficiamento artesanal. É, principalmente, o resgate da cultura nacional, uma vez que o uso da fibra natural brasileira está substituindo a utilização de artigos sintéticos e do couro. Trazendo de volta para o Brasil o mercado que estava sendo perdido para outros países e a valorização do trabalho do artesão.
ABRIG: A COP 26 destacou a importância dos povos originais e comunidades locais nativas que atuam em harmonia com o meio ambiente e com modos de produção artesanal. Quais os principais aspectos do projeto Akra quanto a sustentabilidade para vocês?
O Projeto Akra realiza um trabalho com comunidades locais genuinamente artesanais, que se utilizam de matérias-primas oferecidas pela natureza. O trabalho artesanal com as fibras naturais representa uma das principais fontes de renda para muitas pessoas de comunidades do interior do Brasil.
Então, um dos principais aspectos quanto a sustentabilidade é a importância da preservação da floresta tropical. As artesãs utilizam de matérias-primas oferecidas pelas florestas que circundam as comunidades.
São confeccionadas peças como redes, bolsas e cestos, utilizando a fibra da palmeira do Buriti, presente em toda a América do Sul, também nos biomas da Floresta Amazônica e do Cerrado, no território brasileiro.
Além disso, para o tingimento das peças são utilizadas plantas nativas da região, como por exemplo, urucum, pariri, açafrão dentre outros.
Trabalhamos juntos as comunidades reforçando a importância do manejo sustentável e apoiamos no reflorestamento da palmeira do Buriti onde o Projeto Akra atua.
Queremos manter viva a cultura artesanal da região, possibilitando de maneira sustentável a geração de trabalho e subsistência desses artesãos, em grande parte mulheres, que se fortalecem com o reconhecimento do seu trabalho e valorização das técnicas e saberes de seus ancestrais.
ABRIG: A atuação da Akra é internacional. Como o mundo está vendo o Brasil com ações como a de vocês?
Apresentamos o nosso trabalho para o mundo e hoje atendemos mais de oito países. A comercialização dos produtos provenientes do Projeto Akra ocorre especialmente pelo trabalho que desenvolvemos com as comunidades artesãs.
Boa parte dos nossos clientes internacionais comercializa nossos produtos, considerando a contribuição que estamos dando as comunidades ribeirinhas, com a realização de capacitações, preservação da natureza com a realização do manejo sustentável da palmeira de Buriti e a utilização do tingimento natural.
O mercado entendeu que o consumidor além de apreciar uma peça com design, qualidade e sofisticação, também está preocupado com o consumo consciente, com as questões sociais e a sustentabilidade ambiental. As nossas peças têm uma história, um significado e um propósito. Além disso, colabora na valorização do trabalho artesanal e subsistência de comunidades artesãs.
ABRIG: Qual a importância das Relações Institucionais e Governamentais para o projeto?
As Relações Institucionais e Governamentais realizam um trabalho de extrema importância não só para o Projeto Akra, mas para o País! O movimento realizado pelos profissionais de RIG podem provocar discussões, debates sobre temas esquecidos e/ou ignorados pelos governantes, além disso podem sugerir políticas públicas para a preservação do meio ambiente, propor soluções para as questões relacionadas ao desmatamento e poluição das águas.
O que precisamos é de pessoas competentes e comprometidas que desenvolvam relacionamentos com instituições, articule estratégias e estabeleça parcerias em programas de sustentabilidade e responsabilidade social.
Essas ações podem contribuir para a valorização das florestas e ecossistemas, mantendo viva a cultura artesanal das comunidades artesãs do Brasil e possibilitando de maneira sustentável, a geração de trabalho e subsistência desses artesãos.