“Uma mulher abre caminho para outra”, afirma Rosilda Prates

Entrevista com Rosilda Prates, presidente executiva da P&D Brasil e CEO da Hexa Brasil Consultoria de Relações Institucionais e Governamentais.

Abrig: Atualmente, você integra conselhos e comitês importantes, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável (CDESS) e o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), ambos da Presidência da República, além do Conselho Nacional do Desenvolvimento da Indústria (CNDI). Houve avanços na representação feminina nesses espaços públicos? 

Rosilda Prates: No atual momento do Governo, houve um aumento notável na representação feminina. Um exemplo é o ‘’Conselhão’’, onde cerca de 40% dos membros são mulheres, houve também uma diversidade maior na representatividade de entidades, segmentos e personalidades da sociedade.  

Além disso, há movimentos no MDIC, por exemplo, na criação de grupos de discussões governamentais que buscam aumentar a participação feminina em debates sobre políticas públicas, política industrial, empreendedorismo, comércio exterior, entre outros temas de relevância.

Então, pode-se dizer que houve, sim, avanços na representação feminina nos espaços públicos. No entanto, ainda existem espaços majoritariamente compostos por homens que precisam ser reformulados.

Abrig: Como era o cenário há alguns anos quando você iniciou a sua carreira? Houve alguma experiência que marcou sua trajetória enquanto mulher nesta área? 

Rosilda Prates: Iniciei minha carreira no setor financeiro, onde atuei por mais de 19 anos. No início, percebia-se a predominância masculina em cargos de gerência. Hoje o cenário evoluiu e percebemos muitas mulheres nessas posições de liderança.

Já na área da tecnologia, houve também uma evolução, porém ainda há muitos espaços a serem preenchidos por mulheres, especialmente em funções de liderança, na condução de debates e discussões estratégicas.

Abrig: Você também é presidente executiva da P&D Brasil, uma associação de empresas de desenvolvimento tecnológico. Como você avalia a participação de mulheres em temas que por muitos anos foram destinados exclusivamente a homens? 

Rosilda Prates: Participei de forma ativa da coordenação e fundação da P&D Brasil, o que me colocou desde o início numa posição de diretoria e posteriormente na presidência da entidade. Iniciei como diretora executiva e, há quatro anos, ocupo o cargo de presidente executiva. Ao longo desse tempo, busquei ocupar todos os espaços possíveis que uma mulher, comprometida com a causa e atuando como presidente de uma entidade, poderia alcançar.

Durante minha trajetória, apesar de reconhecer a falta de representação feminina em espaços públicos, nunca encontrei resistência à voz feminina por parte do Governo, vejo que consideram mais se a representante tem competência, conhecimento e uma fala segura. Por outro lado, percebo uma maior resistência por parte do setor privado.

Acredito profundamente no princípio de que uma mulher abre caminho para outra. Por isso, nos cargos que ocupo, sempre busco dar oportunidades a outras mulheres. Na administração da P&D Brasil, por exemplo, somos predominantemente mulheres, assim como na Consultoria Hexa Brasil, que lidero há quase 20 anos.

Abrig: Como você vê a participação das mulheres em posição de liderança nos grupos e movimentos de mulheres? Ainda há preconceito com as mulheres que tratam da pauta de gênero?

Rosilda Prates: Faço parte do Grupo Mulheres do Brasil desde 2017 e aqui em Brasília sou uma das Conselheiras, é um espaço composto por 22 comitês, entre eles o de políticas públicas e empreendedorismo, onde seguimos explorando e conquistando espaços de forma muito concisa.

Participar desse movimento exige uma segurança e uma articulação muito forte, não são todos os espaços que recebem bem agendas relacionadas a gênero, no entanto, temos obtido muitas conquistas.

Nas nossas pautas levantamos a bandeira do combate à violência contra a mulher, maior representatividade feminina em Conselhos e mais oportunidades de financiamento orientadas para empreendedoras.

Abrig: O que podemos esperar para as próximas gerações de mulheres?

Rosilda Prates: Acredito na importância da troca de experiências entre mulheres, pois isso colabora para o fortalecimento de oportunidades e aumenta a segurança em si mesma. Por isso, criei A Sala de Conteúdo, um espaço onde me reúno regularmente com grupos de mulheres para discutir sobre variados temas, incluindo política, tecnologia, experiências femininas em participação de eventos. Contudo, ainda percebo que falta resiliência das mulheres em parar e debater sobre determinados assuntos, e o receio em se expressar de forma mais incisiva.

Espero que mais mulheres percam o medo de enfrentar resistências, afinal sempre teremos obstáculos. Que ocupem seu espaço de direito, adotando uma postura assertiva, e que não se intimidem nas oportunidades de se posicionar e estimular o diálogo.